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Eindhoven: a cidade da luz é agora capital do design

Por Andreia Marques Pereira

Na cidade do Sul dos Países Baixos, nada se perde, tudo se transforma. Depois de um passado industrial florescente, Eindhoven teve de reinventar-se e fê-lo com estilo. Tanto que deixou de ser a “cidade mais aborrecida” do país para se tornar a “rapariga mais excitante”.

Tempos houve em que Eindhoven tinha uma “cidade proibida”. O controlo nas entradas era rigoroso, quase como atravessar uma fronteira para uma admirável cidade nova. Mas “o muro caiu”, brinca Erik van Gerwen, do turismo de Eindhoven, um dos nossos guias pela cidade. O “muro” era o do complexo da Philips, o gigante electrónico — só o atravessavam os trabalhadores da empresa.

Não que isso causasse fricções graves na cidade, imaginamos: afinal, Eindhoven cresceu à sombra (e ao ritmo) da Philips (e, com menos impacto, à DAF, companhia de camiões), aqui fundada no final do século XIX (1891) para dar luz ao mundo. Se no início do século XX eram menos de cinco mil os habitantes da cidade do Sul dos Países Baixos, no dealbar do XXI eram 200 mil.

De aldeia a quinta cidade holandesa, de aldeia à segunda economia do país. O último século foi benevolente com Eindhoven — bem, nem sempre: devido à Philips, a cidade foi ponto estratégico dos bombardeamentos da II Guerra Mundial, tanto dos alemães como dos aliados. A destruição foi grande, mas Eindhoven foi, é resiliente.

Voltou a prová-lo já no final do século XX: em 1997, a Philips transferiu quase toda a sua estrutura para Amesterdão (em Eindhoven ficaram instalações de investigação). Trocou a província, e aquela que tinha a reputação de ser a cidade “mais aborrecida” do país, pelo cosmopolitismo da capital. Eindhoven tremeu, mas, atrevemo-nos a dizer, foi a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido. Teve de reinventar-se e para tal recorreu a algo que a Philips deixou entranhado no ADN da cidade: a inovação e a criatividade, que tem na tecnologia a sua espinha dorsal e no design a sua imagem de marca. A primeira é uma questão quase sub-reptícia para o visitante, a segunda tomou conta da cidade e tem o seu ponto alto durante a Dutch Design Week, que é o maior acontecimento da cidade, juntamente com o festival de luz Glow.

E é assim que hoje chegamos a Eindhoven para ver que a antiga cidade proibida, o antigo coração da Philips (que na verdade deixou por toda a cidade edifícios, complexos – até residenciais como o Philipsdorp, monumento nacional – e, claro, o PSV Eindhoven, o P de Philips), é agora o Strijp-S, um dos locais mais criativos e dinâmicos da cidade a pouca distância do seu centro. Aqui, numa zona onde se alinham edifícios industriais, brancos, alguns andares rasgados por grandes janelas, durante anos abandonados, artistas, designers, arquitectos, artesãos e empreendedores encontraram casa.

Ainda se vive em ebulição, há gruas, tapumes, contentores porque ainda é um work in progress. O visual industrial continua inconfundível, mas agora o que o preenche são restaurantes, hotéis mais ou menos alternativos, lojas de design e de autor, estúdios e galerias de arte e até um centro musical, Popei, onde 50 bandas ensaiam regularmente e funciona o “Rock City”, no edifício conhecido como Klokgebouw, a “torre do relógio”, com o símbolo da Philips, que é um dos ícones da cidade. Um dos projectos mais recentes são os lofts com rendas controladas, uma aposta para fixar população que já aqui fazia a sua vida profissional. Sim, a cidade proibida ainda tem uma Area 51 — mas agora é um dos maiores parques cobertos de skate da Europa; e ao terceiro domingo de cada mês é local de peregrinação incontornável, com o Feel Good Market a dar as boas-vindas a todos.

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