Sucesso que tem dado frutos: o Intelligent Community Forum durante anos integrou Eindhoven no seu top de comunidades mais inteligentes do mundo (em 2011 alcançou mesmo o número um) e a revista Forbes considerou-a, em 2013, a cidade mais inventiva do mundo (em Eidhoven produziam-se 22,6 patentes por cada 10 mil residentes, de acordo com a organization for Economic Co-Operation and Development). E “aqui inventa-se e faz-se”, nota Erik . E dá o exemplo da artista Jalila Essaïdi, que atravessa as fronteiras entre design, biotecnologia e empreededorismo e criou, por exemplo, roupa a partir de estrume e uma pele à prova de balas — e tudo começou como projectos artísticos.
O discurso parece instalado na cidade, que assume a sua nova identidade de corpo e alma. Erik já nos havia dito, sem rodeios: “Todos são bem-vindos, mas queremos ser claros, nada de cosméticas. Eindhoven é tecnologia, design e conhecimento. Turística? Não, não somos. Mas se o que buscam é inovação e design, estão aqui.” A honestidade possível na cidade que “não é a rapariga mais bonita”, mas é “a rapariga mais excitante”, diz. O alvo, continua, não é o turismo de massas, mas os exploradores de cidades — aqui ninguém vai reconhecer ruas e edifícios, aqui vai encontrar-se inovação. “O desenvolvimento da cidade não é para eles [turistas], é para nós, está-nos nos genes. E será o que os atrairá.” Por isso, o lema é algo como “se escolheres, serás escolhido”.
Annemoon Geurts escolheu Eindhoven para estudar design e Eindhoven escolheu-a. Aqui abriu o seu estúdio de design e sempre foi presença assídua na Dutch Design Week. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de abrir um restaurante pop up para servir a grande mostra. “Eat, drink and design”, brinca. Dois anos depois, ela e o companheiro decidiram desenvolver o projecto. Surgiu o Kazerne, que ocupou uma antiga caserna do exército, e une a restauração e a arte: “Sabemos que não podemos salvar o mundo através do design, mas queremos fazer a nossa parte. Mostrar o poder da indústria criativa como força motriz e fonte de inspiração para um quotidiano com mais beleza, humanidade e sustentabilidade”, explica Annemoon. O resultado é que jantamos numa galeria de arte. Diante de nós está Lightfall, uma instalação com sensores de luz e som (de Paul Thursfield e Simon Rycroft para a Philips) — e ao entrarmos deparamo-nos com uma instalação cinética, do Studio Drift, que parece impelir a voar e foi criada para a Bienal de Veneza de 2015.
A arte estende-se para outras salas e corredores — os comensais são incentivados a percorrê-las, copo na mão se quiserem — e em breve estará em quartos. É a próxima fase do projecto: um hotel design em que cada quarto, apenas oito, será uma obra de arte. Sim, os hóspedes dormirão numa exposição, com todas as regras que tal acarreterá e a concretização de um conceito: “Seremos uma casa do design com um hotel boutique.” “Nunca faria sentido abrirmos apenas um restaurante ou um hotel”, afirma Annemoon, “esta é uma casa do design e queremos mostrar os trabalhos dos nossos colegas”. Enquanto não tem trabalhos para apresentar, Océan, francesa recém-graduada na EDA, vai trabalhando aqui em part-time. “Talvez fique em Eindhoven.”