Diogo Batalha é neto de José Franco (1920-2009), conhecido ceramista e oleiro do concelho. Se o avô teve como obra mais marcante a construção de um museu onde recriou em miniatura a aldeia típica do Sobreiro, onde nasceu, o neto procura agora recuperar ao passado o edificado da Mata Pequena e dar-lhe uma nova vida. “É um pequeno contributo para manter esse legado [arquitectónico]”, conta Diogo, que não esconde a influência do avô no “grande gosto pela tradição e pela arquitectura da região saloia”. Desta vez, o percurso por Mafra não nos leva à Aldeia-Museu de José Franco, mas é paragem turística quase inevitável no concelho, sobretudo para quem passeia com crianças.
Foi em Mafra que D. José I fundou, em 1753, a primeira grande escola de escultura em Portugal e, desde então, a olaria manteve uma grande tradição no concelho. Hoje, contudo, são poucos aqueles que continuam a profissão. José Luís Pires é o único oleiro com atelier e loja no centro da vila. Há três anos abriu a Oficina do Barro mesmo ao lado do mercado municipal. Aos 46 anos, leva 30 de barro. Ainda era miúdo quando começou como aprendiz de oleiro na zona do Sobreiro, inspirado pela cerâmica figurativa do “mestre” Franco. Nos intervalo do trabalho — onde produzia sobretudo peças utilitárias, como pratos e vasilhas — subia à mesa de oleiro e treinava os dedos para fazer nascer delicadas figuras. Hoje faz sobretudo esculturas “satíricas e religiosas” com barro vindo da região. Figuras de Santo André, patrono da cidade, de Nossa Senhora do Ó, de Baco ou representações da fuga para o Egipto, ora de burro, ora de elefante, vão compondo as prateleiras da loja.
Quintas e agricultura
James Frost deixa a DT enlameada no pátio e vem receber-nos junto ao portão da Quinta de Sant’Ana, no Gradil. Passou a manhã a separar os borregos que vislumbramos lá ao fundo, entre as vinhas e o eucaliptal que sobe a encosta até ao muro da Tapada Nacional de Mafra. “Quero ver se vendo alguns”, conta o inglês, de 51 anos, tirando a boina. A principal actividade da quinta é a vinha, mas por agora as videiras ainda surgem despidas sobre o vale.
Em 1969, os sogros de James compraram esta quinta do século XVII para se refugiarem das tensões vividas na Alemanha dividida no pós-Segunda Guerra Mundial. Eram tempos da Guerra Fria, do muro de Berlim. Viveram aqui cinco anos, até a revolução vir agitar Portugal, com o 25 de Abril. Regressaram a Vestefália e a Quinta de Sant’Ana ficou em estado de semi-abandono. De vez em quando vinham passar férias, tentaram vendê-la. Entretanto, James serve como oficial do exército inglês na Alemanha e conhece Ann von Fürstenberg. Casam-se. Vêm de férias à quinta em 1992. E pouco depois mudam-se de armas e bagagens para Portugal. “Somos grandes românticos, gostamos desta vida e de restaurar. Era um óptimo sítio para criar os filhos”, conta. Têm sete, todos rapazes.
A plantação de novas vinhas foi o primeiro passo na renovação da quinta. Em 1999, os primeiros 2,4 hectares. Depois mais sete. Em 2004, António Maçanita tornou-se enólogo consultor na quinta e mantém-se à frente da produção — cerca de 50 mil garrafas por ano, entre tintos, brancos e um rosé. Na adega, entretanto renovada, ainda sobrevive uma linha de impressionantes tonéis de cinco mil litros. “É só para inglês ver”, ri-se James. “Já não os usamos. A qualidade da madeira não é boa e são muito grandes para as quantidades que hoje produzimos.” Mas a apanha dos cachos ainda é feita manualmente e alguns tintos são pisados no lagar. Além do vinho, a aposta é forte no turismo. Alojamento rural, provas vínicas e gastronómicas, workshops de pintura em azulejo ou produção de pão em forno de lenha, eventos corporativos e casamentos são apenas algumas das actividades disponibilizadas.