No palácio, percorremos tantos recantos quanto o tempo vai permitindo. Passamos por algumas das salas que compõem o antigo Paço Real, pelas celas dos frades, pela enfermaria, pelo refeitório e pela biblioteca. Subimos à cúpula da basílica, já na penumbra, e assistimos ao final do pôr do sol nos telhados do edifício. Deixamo-nos deslumbrar pela maquinaria que faria soar os dois carrilhões históricos do edifício, o maior conjunto sineiro do mundo, obra de restauro pela qual Mário Pereira batalhou ao longo do mandato e cujo concurso público para a entrega dos trabalhos permanece aberto desde 2015. Visitamos salas de restauro e o museu de escultura comparada, encerrado numa ala à espera de reabilitação. Privilégios inerentes a um passeio com o director. Há sempre mais uma sala, mais um pormenor por descobrir.
É um edifício que “quanto mais se conhece, mais se admira”, repetirá inúmeras vezes Mário Pereira, parafraseando o cónego Assunção Velho. De todo o monumento, só duas alas são desconhecidas para o responsável. “Nunca encontrámos as chaves de duas portas e, como são fechaduras muito antigas, não queríamos ter de arrombar e estragá-las”, conta. Ao fim de nove anos à frente da direcção do palácio, Mário Pereira diz ter chegado o momento de se reformar. Acredita que se perde o distanciamento necessário às funções depois de muito tempo num cargo de chefia. Mas o edifício ainda não deixou de o surpreender. Há pouco tempo reparou que os recortes nas varandas desenham uma flor-de-lis ou um coração de Cristo consoante a perspectiva e a luz. Seria intencional? “Quanto mais se examina, mais se admira”, dizia o cónego. E talvez seja verdade. Não só o palácio, como todo o concelho.