Fugas - Viagens

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    O Palácio Nacional de Mafra celebra em 2017 o tricentenário Nuno Ferreira Santos
  • Maria do Rosário, padeira em Santo Estêvão das Galés
    Maria do Rosário, padeira em Santo Estêvão das Galés Nuno Ferreira Santos
  • Mário Pereira, director do Palácio Nacional de Mafra
    Mário Pereira, director do Palácio Nacional de Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Diogo Batalha, responsável pela recuperação da Aldeia da Mata Pequena
    Diogo Batalha, responsável pela recuperação da Aldeia da Mata Pequena Nuno Ferreira Santos
  • Mafra
    Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Penedo do Lexim
    Penedo do Lexim Nuno Ferreira Santos
  • James Frost e Ann, na Quinta de Sant'Ana
    James Frost e Ann, na Quinta de Sant'Ana Nuno Ferreira Santos
  • Foz do Lizandro
    Foz do Lizandro Nuno Ferreira Santos
  • Capela de São Julião
    Capela de São Julião Nuno Ferreira Santos
  • Relógio de sol, Igreja de Nossa Senhora do Ó
    Relógio de sol, Igreja de Nossa Senhora do Ó Nuno Ferreira Santos
  • Capela de São Sebastião, Ericeira
    Capela de São Sebastião, Ericeira Nuno Ferreira Santos
  • Interior da Capela de São Sebastião
    Interior da Capela de São Sebastião Nuno Ferreira Santos
  • Visita aos subterrâneos do palácio
    Visita aos subterrâneos do palácio Jornal Público
  • Visita aos subterrâneos do palácio
    Visita aos subterrâneos do palácio Jornal Público
  • A biblioteca é um dos tesouros do Palácio de Mafra
    A biblioteca é um dos tesouros do Palácio de Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Palácio Nacional de Mafra
    Palácio Nacional de Mafra Nuno Ferreira Santos

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Mafra, um “mundo velho” que nunca acaba

As visitas são organizadas pelos militares da Escola de Armas, localizada na área conventual do edifício, uma vez por mês. E a curiosidade é tanta, alimentada pelo mito das ratazanas albinas gigantes e pelo sucesso das galerias romanas de Lisboa, que as inscrições esgotaram para o ano inteiro ainda antes de a primeira ter lugar, no final de Janeiro. Na estreia, coube ao tenente-coronel José Freixo balançar as expectativas da primeira vintena de visitantes. “É uma área de esgoto, digamos assim, por isso o cheiro pode ser um pouco sui generis”, adverte, para a seguir alimentar a crença popular. “Pode acontecer visualizarem um ou outro rato, mas são dóceis e estão habituados à presença humana”, brinca, provocando risos nervosos entre o grupo.

A segurança não foi descurada e ocupa grande parte da visita. “Há riscos, que tentámos minimizar”, avisa o tenente-coronel, justificando o uso de capacete e arnês e a ambulância à entrada do alçapão escolhido para a descida, feita por escadote. O cheiro forte causa apenas “impacto à entrada”, conta Inês, de 12 anos, mas é sobretudo odor a “águas paradas”, descreve a mãe, Fátima Bento. O caminho faz-se depois por um túnel estreito, iluminado a holofotes colocados para o evento, com cerca de 1,5 metros de largura e um passeio de alvenaria enlameado, por onde andamos ao longo de 40 metros, aproximadamente. Por vezes, o piso encolhe e há que percorrê-lo de costas para a parede. Mergulhados no pequeno caudal dos esgotos (alimentado em mais de 90% por águas pluviais), avistamos talheres e cacos de loiça de barro, revelando estarmos perto das cozinhas. Mas ratos só na imaginação de Joel, de oito anos, que jura ter visto um roedor surgir num buraco da parede.

“O espaço não é muito apelativo”, admitirá o sargente-chefe Paulo Inácio já no final da visita. Mas ninguém parece importar-se. “Esta era uma zona que ainda não conhecia no palácio e gostei. Foi uma experiência única que deu para compreender melhor a dimensão de toda a obra”, comenta à saída Gonçalo Araújo Neves. No total, a rede de esgotos e galerias subterrâneas do monumento conta com cerca de dois quilómetros de extensão, interligando as zonas das cozinhas, do refeitório, das cloacas (antigas casas de banho) e da enfermaria. Projectada há 300 anos, aquando da construção do palácio, é uma obra de engenharia que já incluía soluções ainda hoje utilizadas nas estações de tratamento das águas residuais, contava-nos à chegada Mário Pereira, que acompanhou a visita.

Foi no Palácio Nacional de Mafra que tudo começou. E foi lá que iniciámos e terminámos cada viagem com Mário Pereira. É impossível fugir à silhueta do monumental edifício que se ergue magnânimo sobre a vila, considerado um dos mais importantes testemunhos do período barroco em Portugal. O edifício, composto por palácio, basílica e convento, foi mandado construir por D. João V, aproveitando a riqueza do ouro vindo do Brasil. A primeira pedra foi lançada a 17 de Novembro de 1717, data em que culmina, 300 anos depois, o programa de celebrações. É ano de festa em Mafra. O palácio comemora o tricentenário, a tapada faz 270 anos e, no final de Janeiro, foi entregue a candidatura conjunta dos dois espaços projectados por D. João V a Património Mundial da UNESCO.

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