Fugas - Viagens

  • O Palácio Nacional de Mafra celebra em 2017 o tricentenário
    O Palácio Nacional de Mafra celebra em 2017 o tricentenário Nuno Ferreira Santos
  • Maria do Rosário, padeira em Santo Estêvão das Galés
    Maria do Rosário, padeira em Santo Estêvão das Galés Nuno Ferreira Santos
  • Mário Pereira, director do Palácio Nacional de Mafra
    Mário Pereira, director do Palácio Nacional de Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Diogo Batalha, responsável pela recuperação da Aldeia da Mata Pequena
    Diogo Batalha, responsável pela recuperação da Aldeia da Mata Pequena Nuno Ferreira Santos
  • Mafra
    Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Penedo do Lexim
    Penedo do Lexim Nuno Ferreira Santos
  • James Frost e Ann, na Quinta de Sant'Ana
    James Frost e Ann, na Quinta de Sant'Ana Nuno Ferreira Santos
  • Foz do Lizandro
    Foz do Lizandro Nuno Ferreira Santos
  • Capela de São Julião
    Capela de São Julião Nuno Ferreira Santos
  • Relógio de sol, Igreja de Nossa Senhora do Ó
    Relógio de sol, Igreja de Nossa Senhora do Ó Nuno Ferreira Santos
  • Capela de São Sebastião, Ericeira
    Capela de São Sebastião, Ericeira Nuno Ferreira Santos
  • Interior da Capela de São Sebastião
    Interior da Capela de São Sebastião Nuno Ferreira Santos
  • Visita aos subterrâneos do palácio
    Visita aos subterrâneos do palácio Jornal Público
  • Visita aos subterrâneos do palácio
    Visita aos subterrâneos do palácio Jornal Público
  • A biblioteca é um dos tesouros do Palácio de Mafra
    A biblioteca é um dos tesouros do Palácio de Mafra Nuno Ferreira Santos
  • Palácio Nacional de Mafra
    Palácio Nacional de Mafra Nuno Ferreira Santos

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Mafra, um “mundo velho” que nunca acaba

Depois de uns anos 1990 “um pouco preocupantes” devido ao crescimento exacerbado da construção no concelho de Mafra, James Frost sente uma “mudança de atitude”. As pessoas estão a voltar “a dar valor às coisas antigas” e a “reconhecer a importância da parte agrícola do concelho”. Os limões, o vinho, a horta. “É o que caracteriza Mafra e é importante manter a tradição dos povos e das aldeias”, defende. Para Mário Pereira, é esta “dimensão do que é fruído, vivido, este sentimento de pertença que dá sentido ao próprio conceito de património”. É que é de património que falamos sempre ao longo desta viagem. Ambiental, histórico, cultural.

Na Picanceira, negligenciamos a Quinta dos Machados propriamente dita para concentramos atenções no Bairro dos Ilhéus, “uma das primeiras construções operárias erguidas em Portugal”. No caminho, visitamos brevemente a Tapada Nacional de Mafra, onde voltaríamos dias depois para dormir entre os sons da natureza (ver texto nestas páginas). Agora estamos um pouco mais a norte, à entrada da pequena localidade da Picanceira. Sobranceira a uma curva da EN9, ergue-se uma inesperada parede de casas. Apenas a silhueta arredondada do forno de lenha e a chaminé permitem adivinhar os limites entre cada uma das 23 exíguas habitações unifamiliares.

O bairro operário foi construído no final do século XIX pelo proprietário da quinta, o industrial açoriano Domingos Dias Machado, para albergar o contingente populacional que fez chegar dos Açores para empregar na propriedade agrícola, à época uma das mais importantes no concelho. Daí a alcunha “ilhéus”, que saltou da gíria para a toponímia da rua traseira. O casario mistura influências da arquitectura popular da região e do arquipélago, formando um “conjunto arquitectónico singular”.

Mar e mar, lutar e rezar

Ao segundo dia, o passeio faz-se mais curto, leve e solitário. Com cheiro a história e a mar. Para Mário Pereira, o concelho de Mafra é feito de contrastes. Entre o construído pelo homem e o criado pela natureza. Entre o campo e o mar. É em direcção ao Atlântico que partimos. Primeira paragem: Forte do Zambujal.

Numa dobra apertada da estrada que liga Mafra à Carvoeira surge um pedaço de terra batida, pronta a receber os carros de quem visita o 95.º posto defensivo das Linhas de Torres. No cume do monte, eleva-se a construção militar mais complexa de toda a segunda linha de defesa, o Forte do Zambujal, recuperado em 2009. Sobressaem as pequenas muralhas de pedra, os morros de terra para proteger os soldados do fogo inimigo, a praça de armas e, para lá do túnel escavado na rocha, a bateria avançada munida de duas bocas de fogo. Era uma das 45 fortificações das Linhas de Torres localizadas em Mafra (153 no total), guarnecida por 250 homens. A vista panorâmica alcança as várias aldeias localizadas nos montes em redor, o vale fértil de talhões agrícolas ao longo do rio Lizandro e segue até ao mar, despontando atrás do desfiladeiro de Fonte Boa da Bricosa.

Aos nossos pés, vemos a Igreja da Senhora do Ó, entre obras de recuperação das fachadas. Visitamos brevemente o interior e seguimos caminho em direcção à capela de São Julião. Mais tarde, ficaremos a saber que o alpendre e o muro da igreja terão servido de trincheira aos portugueses comandados por Mateus Álvares, quando em 1585 este se fez passar por D. Sebastião, resistindo à ocupação filipina. É curiosa a coincidência do percurso, que nos leva agora a São Julião, onde viveu como eremita o auto-proclamado rei da Ericeira.

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