Fugas - Viagens

  • Amanda Ribeiro
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  • Sossusvlei
    Sossusvlei Amanda Ribeiro
  • Yvette Naris, em Solitaire
    Yvette Naris, em Solitaire Amanda Ribeiro

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Estamos na Namíbia ou noutro mundo?

Claro que toda esta travessia provavelmente começa, e acaba, em Windhoek, o “canto do vento” em afrikaans. A discreta capital é extremamente bem organizada, equilibrando a sua história actual com os registos do passado. Inclusive no mesmo quarteirão, como se vê ao observar quase em simultâneo a arquitectura do novo Museu da Independência em contraponto com o Antigo Forte e a Igreja de Cristo, ambos concluídos no início do século XX. Por cá, todas as noites parecem começar, ou terminar, no Joe’s Beerhouse, uma verdadeira instituição na cidade, um restaurante e bar que tem o dom de juntar locais e turistas. Mas também aqui, tal como em todo o vasto território, há particularidades, mais ou menos surpreendentes, todas intrigantes: perpendicular à Rua Fidel Castro, está a Avenida Robert Mugabe, de onde se pode caminhar em menos de meia hora até às ruas Chopin, Brahms ou Puccini. Temos a certeza que estamos mesmo neste mundo?

 

Sossusvlei

O mais perfeito souvenir: areia das dunas de pele vermelha

Escreveu o britânico Lawrence Durrell que a “viagem pode ser uma das mais recompensadoras formas de introspecção”. Um estado de espírito que ganha um sabor particular ao atravessar a Namíbia de carro, durante horas e horas de caminho, cruzando a vastidão subsariana. Com a paisagem a alterar-se lenta e progressivamente, das pedregosas montanhas avermelhadas à cidade, do mar ao deserto. Tanto espaço lá fora e tanto para absorver cá dentro.

Talvez o clímax desta disposição contemplativa se dê em pleno deserto do Namibe, um dos mais antigos do mundo, que cobre a costa do país de Angola à África do Sul. Estamos na estrada C14 em direcção a sul e, para além do Trópico de Capricórnio, já para lá de Solitaire (ver Notas da Viagem), intrometemo-nos naquele que julgámos ser um berço de arco-íris. Um, dois, três, quatro nascem por trás das montanhas. Algo de mágico tem de estar para vir.

Era, como só podia ser, o Mar de Areia do Namibe, Património Mundial da UNESCO desde 2013, em pleno Parque Nacional de Namib-Naukluft. Eis-nos então em Sossusvlei, que hoje em dia já não designa apenas a bacia de argila alimentada, quando tal, pelo efémero rio Tsauchab, o mesmo que rasga o brutal desfiladeiro de Sesriem; hoje, falar em Sossusvlei é apontar para o magnífico oceano de dunas de pele vermelha, cor que advém da alta de concentração de ferro na areia e do respectivo processo de oxidação.

O contraste com o céu azul impressiona, sobretudo ao nascer do sol ou ao final do dia, quando a sombra escorre pela inclinação serpenteante de um dos lados. A altura também: Big Daddy, a maior, chega aos 325 metros; a mais conhecida, a Duna 45, tem 80. Há quem as palmilhe a partir do ar, em tours de avioneta e deslumbrantes viagens de balão, há quem as aviste em trajectos de moto quatro, mas nenhuma das hipóteses deve substituir o acto de pisar a duna, andar na duna, escalar a duna; e descer a correr, deslizar, caminhar. Rebolar, quiçá.

Nem sempre é fácil: há que seguir as pegadas, subir pela borda, que tantas vezes parece demasiado estreita, deixar enterrar os pés, vencer o calor que se faz sentir. Enfrentar o vento que acaba por conceder ao peregrino uma inesperada recompensa: areia, nos bolsos, no cabelo, na mala. Um generoso souvenir.

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