Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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Em Abrantes não faça “uau”, deixe-se antes ficar, devagarinho

Joana deu a volta à drogaria do avô em 2013. Para trás ficava o curso de Arquitectura em Coimbra e uma experiência na sua área de formação que a deixou desapontada. À sua frente estava Abrantes e o regresso a casa. “Na altura não foi pacífico. Não queria vir para Abrantes. Tinha a mentalidade um bocadinho parva de ‘nas cidades grandes é que é bom’. Abrantes é interior, é horrível, no interior não há nada… Mas foi aqui que consegui encontrar trabalho e eu já tinha percebido que havia muito para fazer e que eu podia fazer diferente. Aqui merece. É a minha terra”, conta. A qualidade de vida que encontrou no regresso a casa acabou por vencer as suas resistências. “Às vezes nem pensamos muito nisso. Demoro 10 minutos a chegar à loja. Já vivi no centro histórico e vinha a pé, o que é maravilhoso. Adorava voltar. Neste momento, perder uma hora do meu dia no trânsito é impensável”, diz.

A Drogaria Nova tem a Joana e o senhor Jorge, antigo funcionário da casa. Ela levou para ali os produtos portugueses, num conceito inspirado na loja de Catarina Portas, A Vida Portuguesa. Ele ensinou-lhe o que eram e para que serviam os velhos produtos tradicionais da drogaria, que ainda lá estão. Hoje, os dois já se movimentam à vontade entre benzina, bicarbonato de sódio, doces em bisnaga ou andorinhas de Rafael Bordalo Pinheiro. A drogaria não deixou de o ser, mas cresceu para “loja de prendas”, e é só mais um exemplo das surpresas que Abrantes tem para oferecer.

Ao fundo da Rua Alexandre Herculano, que também termina numa pracinha, a Drogaria Nova é um ponto de partida tão bom como qualquer outro para percorrer o centro histórico de Abrantes. E agora podíamos oferecer-lhe uma lista de edifícios antigos e as suas respectivas localizações, mas não vale a pena. Joana diz que o melhor do centro histórico da cidade “são a pessoas”. Vá lá à procura delas e aproveite o que, para quem vai de visita, parece ser mesmo o melhor: o conjunto.

Percorra praças e ruas estreitas, as mais planas e também as inclinadas, que descem até ao Tejo lá ao fundo, com um piso mais fácil ou ainda feito de pedra antiga e irregular. Erga a cabeça para os verdadeiros palacetes ou mansões antigos com que se vai cruzar por todo o lado. Deixe os olhos repousar nas fachadas brancas debruadas a amarelo, e pelos arbustos de hydrangeas azuis e violetas que adornam as bermas. Entre nas igrejas, observe o pórtico renascentista da Igreja da Misericórdia, e imagine como ficará o Convento de S. Domingos, com os seus claustros do século XVI, na zona alta da cidade, quando terminarem as obras de restauro que o hão-de transformar num museu.

E, é claro, vá ao castelo. Não se pode ir a Abrantes e não ir ao castelo. Nem se pode perceber Abrantes se não se for ao castelo do século XII. O local é mais um daqueles que Joana Borda d’Água vê hoje com outros olhos. “Há uns anos não se dava tanto valor ao castelo. Vínhamos aqui no tempo da escola, mas é um castelo militar, uma antiga fortaleza, e eu não achava piada nenhuma. A minha mãe é professora de História, foi-me falando da sua importância, dos seus tesouros, e hoje já olho para ele de outra forma. Percebo a sua importância estratégica tremenda. A cidade tem vários miradouros, que nem sempre estão bem aproveitados, mas do castelo, vê-se tudo”, diz.

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