Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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Em Abrantes não faça “uau”, deixe-se antes ficar, devagarinho

Praias e miradouros

“Eu ligo muito pouco a fronteiras geográficas”, diz o bloguer assim que entra no carro e nos informa que o primeiro sítio onde nos quer levar não é em Abrantes. Não é bem em Abrantes. É ali nos limites da fronteira do concelho com Vila de Rei, num dos braços do Tejo e da barragem de Castelo de Bode – também ela uma zona de fronteira. Mas quem vai a Abrantes bem pode dar um salto aos concelhos vizinhos, pelo menos para ir disfrutar por um bocadinho que seja da praia fluvial de Penedo Furado.

Há locais que não precisam de apresentações grandiosas e este é um deles. O rio ali é baixo, com águas límpidas e frescas. As árvores em redor projectam sombras bem-vindas e as poucas pessoas que lá estão parecem ter descoberto um pedaço de paraíso a que se agarram com unhas e dentes sem o revelar a ninguém. Carlos Bernardo diz que um dos aspectos de que me mais gosta neste local é o de nunca ter demasiadas pessoas, sobretudo quando as férias ainda não chegaram. Isso e a proximidade. A tranquilidade. A caminhada curta (desde que não estejam quase 40 graus, note, porque aí tudo parece demasiado longe) até às pequenas cascatas uns metros mais à frente, onde se formam bolsas de água que dois rapazes e uma menina aproveitam.

A água, diz, costuma ser fria, mas neste dia de temperaturas tórridas, está perfeita. E é com inveja mal disfarçada que deixamos as poucas pessoas que lá estão, mergulhada até ao peito, enquanto temos que continuar caminho. De volta ao concelho de Abrantes, cuja diversidade Carlos não se cansa de elogiar. “O maior potencial do concelho é a sua diversidade. Entre os extremos Norte e Sul tem 40 quilómetros em linha recta e três áreas completamente distintas. A Norte é pinhal, completamente Beira Interior; o centro é Tejo, lezíria, oliveira, vinha e o castelo; e o Sul tem claras referências a dois territórios marcantes, o Alentejo e o Ribatejo”, diz.

Ele sabe do que fala porque tem percorrido de bicicleta cada recanto da terra que é dele e é com essa experiência que nos guia até aquele que diz ser um dos seus lugares favoritos. Um miradouro que, afirma: “Tem das vistas mais bonitas da região e arrisco dizer que 99% das pessoas de Abrantes não o conhece”. Também é verdade que parece não se ter feito muito para facilitar o acesso a este local, onde se chega por um caminho de terra e os últimos metros têm que ser feitos a pé. Mas, sentados no muro que ladeia o monumento triplo, com a albufeira da barragem de Castelo de Bode e a aldeia da Matagosa à nossa frente, e o silêncio apenas cortado pelo ruído dos motores dos aviões que andam a combater os incêndios e se vão abastecer naquela zona, percebe-se o que Carlos quer dizer. A vista é lindíssima (quase apetece fazer “uau”, afinal) e o sentido de calma pleno. “Já cá tomei muitas decisões importantes”, ri-se o bloguer, formado em Engenharia Civil, e que diz ser visto em Abrantes como uma mistura de “astronauta com rock star”.

Virando as costas à paisagem, bastam poucos minutos para ver o monumento construído por um particular e que representa uma tripla homenagem: à mulher portuguesa, aos aviadores e aos navegadores. E pode sorrir com a referência “Centro de Portugal”, porque se é verdade que o marco geodésico que assinala essa centralidade não está ali, mas em Vila de Rei, também é verdade que esse concelho está mesmo ali ao lado e nem o ponto de latitude zero, no Equador, é consensual.

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