Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
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Em Abrantes não faça “uau”, deixe-se antes ficar, devagarinho

É verdade. Vêem-se quilómetros de paisagem a toda a volta. O Tejo lá em baixo – e, como diz Carlos, “o rio é a principal razão para estarmos [Abrantes] aqui” – e os campos e povoações em redor. Dentro das muralhas há uma enorme extensão de relva e uma torre de menagem onde é possível subir, para ver ainda um pouco mais alto. E há, no interior das muralhas, a Igreja de Santa Maria do Castelo, monumento nacional e “um verdadeiro tesouro”, como não se cansa de repetir Joana.

A igreja, que é também o Museu D. Lopo de Almeida, de acesso gratuito, tem azulejaria hispano-árabe e, sob esta, frescos do século XV, numa dupla riqueza de elementos que continua a ser trabalhada – as pinturas espreitam sob buracos abertos na azulejaria que reveste o altar, como quem pergunta se deve ser vista na sua plenitude ou continuar assim, a partilhar a importância com os azulejos que as cobrem.

Nas paredes laterais há belíssimos túmulos góticos e renascentistas que constituem o Panteão da família Almeida, de que se destaca D. Francisco de Almeida, 1.º vice-rei da Índia. E não se surpreenda com os vestígios romanos que vai encontrar também lá dentro, incluindo uma estátua em mármore, a que falta a cabeça, e que foi encontrada enterrada por baixo da igreja. É que os vestígios de que os romanos estiveram instalados por estas bandas, sobretudo nas margens do Tejo, lá em baixo, são mais do que muitos, como perceberá neste espaço.

E por falar nas margens do Tejo, é lá que Joana nos leva a seguir, até junto dos mourões e das obras do Aquapolis que abriram caminho para desfrutar de outra perspectiva da cidade – de baixo para cima, numa superfície plana, com o rio em primeiro plano. Mas não é aqui que terminamos a visita. Numa reviravolta que já parece típica da cidade, que afinal não é só antiga nem só cheia de velhos, Joana leva-nos até ao Mercado Municipal de Abrantes, inaugurado em 2015, um projecto do gabinete de arquitectura ARX Portugal, de José e Nuno Mateus.

Os olhos da arquitecta iluminam-se enquanto observa a estrutura branca encaixada na muralha e percorre o interior do mercado, com os seus vários patamares, varandas e pontos de vista. “É super-polémico. Acho que as pessoas gostam do edifício, mas odeiam que seja o mercado porque têm uma enorme estima pelo antigo mercado. E como é um espaço com diferentes pisos, custa-lhes um bocadinho”, explica. O velho mercado, plano, num piso só, está “em stand-by” à espera de um futuro, mas Joana delicia-se com o novo espaço e Carlos está mesmo a pensar instalar lá o seu escritório. Ela recorda que foi demolida parte da muralha para que se construísse a escadaria que liga as diferentes cotas por onde se estende o edifício e percebe a polémica desta opção, mas defende-a. “É mesmo uma obra de arte. Enquanto arquitecta, gosto sempre de preservar ao máximo, mas aqui a opção tomada teve razão de ser. Já não se justificava um mercado à moda antiga”, diz, antes de nos mostrar um pormenor que a delicia.

Lá em cima, no último piso do mercado, um pequeno “olho redondo” abre-se sobre a paisagem, numa referência aos miradouros de Abrantes, que Joana tanto queria ver aproveitados de outra forma. Ela espera que esse dia chegue. Que as coisas vão mudando, como se vê no centro histórico, em que as casas degradadas já rivalizam com as que foram ou estão a ser reabilitadas. E em que as pequenas ruas centrais de comércio não sofrem de espaços vazios, mas de velhos e novos negócios que se entrelaçam para mostrar que Abrantes tem algo mais para oferecer do que pareceria à primeira vista. E ainda nem saímos do centro da cidade. Mas o Carlos vai tratar disso.

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