Fugas - Vinhos

  • Manuel Roberto
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A genica, a força, a energia, a invenção está tudo do lado dos DOC Douro

Está a haver um retrocesso?

Sim. A maneira como se começou de repente a falar do terroir é sinal que já se percebeu que eles perceberam. Que cada vinho tem de ter o seu sítio as suas tradições a sua cultura. A mensagem está a chegar. 

O Douro, que é a maior área de vinha de montanha do mundo, não é um chapéu demasiado grande para abarcar terroirs muito diferentes entre si. Faz sentido que haja novas sub-denominações de origem, como na Borgonha?

Ou em Bordéus. Eu admito que sim. Eu gostaria. Faria todo o sentido que duas, três, quatro ou cinco microregiões pudessem ter a sua personalidade própria, o seu próprio nome. Acho que estarem ligadas ao Douro é bom. Eu não tenho competência suficiente para poder dizer quantas e quais seriam as vantagens, mas estou convencido que se o Douro fosse mais complexo na sua maneira de se apresentar ao mundo e que a sua complexidade fosse visível e reconhecida, que se percebesse que beber um vinho do Douro Superior é beber um vinho diferente do Baixo Corgo, com condições climáticas diferentes, e acho que se se isto tudo tivesse um nome, cada um ficava a ganhar. Mas uma vez mais tem de haver sensatez nisto. Estou mesmo a ver aparecerem 45 sub-regiões, mais que os municípios, cada município queria ter a sua, cada quinta queria ter a sua.

Desde a primeira edição do seu livro até esta, tende a concordar com a afirmação de que o que correu melhor no Douro foi a melhoria qualidade dos vinhos do Porto?

Acho que sim. Há vinho do Porto pior do que há 30 anos. Baratíssimo. Já vi em Inglaterra ou na Holanda vinhos do Porto a dois euros. Impensável. Agora se formos aos Colheitas, aos bons Tawnies, aos Vintage, que em Portugal não se consumiam a situação é diferente. Em Portugal aprendeu-se a beber Colheitas, que é um vinho excelente, o Vintage foi considerado, o melhor, o príncipe dos vinhos, mas há vinhos de Tawnies, há vinhos de 20, ou 30 anos que são muito bons.

Que categoria prefere?

Eu não tenho preferência. Agora estou há dois anos, talvez, em que bebo sobretudo Colheitas. Há 15 anos ou há 30 anos quando comecei a descobrir mesmo o Vintage achei que era o melhor vinho do mundo. Tinha um vício terrível, gostava Vintage com três ou quatro anos, quase acabado de fazer. Até se inventou em Portugal aquela coisa horrível que era pedofilia beber vinhos com três ou quatro anos. E aquele vinho cru, acabado de fazer, tem qualquer coisa de interessante. Passei anos em que praticamente só bebia Vintage. Até às refeições, às vezes. Depois gradualmente comecei a dosear e descobri os 10, 20, 30, 40 anos, e depois os colheitas com data, que se são bem feitos, caramba, é muito bom.

Que anos prefere?

1994, 1983. Depois os grandes clássicos, o de 45, de 63, de 27. São vinhos fantásticos.

Partilha da visão dos que acham o Douro anda não consegue ter uma identidade nos seus vinhos de mesa como têm os grandes Bordéus ou os grande Borgonhas?

Acho que sim. Mas é relativamente simples. Estamos a pôr 25 anos de DOC com 200 anos de Borgonha ou de Bordéus. É cedo. A região é vasta de mais, os climas e os solos são muito diferentes de sítio para sítio. Você tem o Crasto, depois o Vale da Raposa, a Gaivosa, depois o Vallado, o Vale Meão, depois tem o Duorum ou agora o Xisto, os Batuta e os Charme e diz, ó diabo, isto não é o mesmo vinho. Depois tem os Batuta e os Charme, uns vinhos a fugir para os Borgonha, outros a fugir para o Bordéus. Isto tem de começar a estabilizar ou tem de se começar a desenhar, de fazer a configuração do que são as regiões e os tipos de vinho.

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