Fugas - Vinhos

  • Manuel Roberto
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A genica, a força, a energia, a invenção está tudo do lado dos DOC Douro

Eu pensava há 30 anos que essa energia era positiva, que poderia levar à associação, à convergência, à concentração de esforços e ao protagonismo, e não levou. Também tinha a sensação que era possível quebrar a monocultura, e não se conseguiu. O turismo é a única coisa nova que há, mas este tipo de turismo tem o inconveniente de ser um turismo que passa.

Tenho amigos que dizem que dormem no barco, comem no barco, bebem do barco e não saem cá para fora. Eu digo, é verdade, mas acrescento, façam coisas suficientes para atrair as pessoas. Tenham cultura, sítios, museus, para as atrair.

Uma obra obrigatória  para conhecer o Douro… e o país

Nenhuma região do país foi capaz de dar origem a tanta bibliografia como o Douro. Desde o século XVIII que portugueses e ingleses, viticultores e exportadores, geógrafos padres ou políticos se dedicam a fazer retratos, denúncias, queixas ou propostas sobre uma região cujos vinhos foram tanto causa de riqueza como de miséria, de euforia ou de revolta, de tratados internacionais como de acordos internos ao sabor do equilíbrio de poderes.

Nos últimos anos, como desde sempre, essa torrente de ensaios, estudos, relatórios ou romances nunca se interrompeu – pelo contrário, a obra do historiador Gaspar Martins Pereira e do Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense da Faculdade de Letras da Universidade do Porto produziram uma verdadeira revolução no conhecimento histórico dos três séculos e meio de aventura duriense. Mas é fácil concordar com Gaspar Martins Pereira quando ele afirma que “Douro, Rio, Gentes e Vinho” que António Barreto revisitou este ano (a primeira edição é de 1992) seja “o mais belo livro alguma vez publicado sobre o Douro”.

O grande trunfo de Barreto é o domínio de disciplinas tão vastas e díspares como a história, a economia, a demografia, a enologia ou a viticultura. E o seu maior mérito é a sua capacidade de as cruzar para produzir um quadro evolutivo e coerente de uma região desde os primórdios da aventura exportadora do vinho do Porto.

O saber de António Barreto sobre o Douro leva-nos a acreditar na existência da inteligência emocional. Não há nenhum autor contemporâneo capaz de produzir a síntese que o seu livro consegue. Porque não se trata apenas de uma síntese baseada na reflexão e no conhecimento: há em cada analogia, em cada parágrafo uma evidente prova de emoção. Na beleza da escrita, na análise da História ou na descrição da paisagem, Barreto revela-se como um duriense que sabe porque gosta e quer saber do que sabe.

Numa região e num vinho marcado pelo confronto de interesses e paixões, é fácil cair no maniqueísmo e sublinhar uma ou outra face dos conflitos entre Douro e Gaia, pequenos e grandes agricultores, do Baixo Corgo ou do Douro Superior. Barreto não nega o lado da sua “barricada” e revela na sua leitura da região maiores preocupações sobre o estado da economia ou da dinâmica associativa do Douro. “Quase 20 anos de formidável expansão do seu principal produto não criaram, na região, riqueza, oportunidades, emprego e prosperidade suficientes para inverter a desertificação. A verdade é que, uma vez mais na História, os principais benefícios foram para fora do Douro”.

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