As alterações tinham como objectivo trazer mais conforto às diversas personalidades ilustres que já frequentavam o espaço, como Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro. Em finais do século XIX ir ao Tavares era um must, um acontecimento por si só. Eram populares os jantares de mesa redonda frequentados por intelectuais da época em que havia um menu a preço fixo, mas também era possível fazer refeições opulentas escolhendo à lista.
Manuel Caldeira quis elevar ainda mais os padrões do estabelecimento quando, em 1903, entregou a Hermógenes dos Reis a renovação que colocou o Tavares no lote dos lugares mais exclusivos da Europa. A profusão de talha dourada com motivos rococó sobressaía entre os candeeiros em aplique. A estatuária pontuava ao longo da sala que combinava com elegância os estilos Belle Époque e Art Nouveau. No exterior, a entrada em vitraux de marquise sublinhava o lado sofisticado. Sobre a porta, o alpendre com vitrais ostentava ao centro o brasão da Casa Real em relevo. No primeiro andar os cabinets foram decorados com frescos no tecto, mantendo-se reservados de olhares indiscretos. A propósito destes gabinetes privados, Fernando Lopes recorda: "Por vezes eram mal frequentados e apareciam senhoras à procura dos maridos e nós justificávamo-nos, dizendo-lhes que se calhar tinham-nos visto entrar na porta ao lado, que também dava acesso ao primeiro andar e a outros apartamentos do prédio." E acrescenta que foram episódios caricatos como este que levaram ao fim dos gabinetes, em 1964.
O resultado desta remodelação no início do século XX marcou o início de uma época ainda mais dourada sob a égide de Manuel Caldeira. Políticos, aristocratas e burgueses eram vistos com frequência à mesa do Tavares a degustarem o melhor da cozinha francesa clássica. Sidónio Pais terá almoçado ali a 4 de Dezembro de 1917, na véspera do golpe de Estado que liderou e o levaria à Presidência da República, conforme relata Mário Costa em O Chiado Pitoresco e Elegante. Com a morte de Manuel Caldeira, em 1923, chega ao fim a era Caldeira no Tavares.
Caviar e pescada
O então gerente Miguel Villan Monrroy compra o restaurante em sociedade com o filho José Marques. Apesar de ter novos responsáveis, o prestigiado nome de Manuel Caldeira como proprietário foi mantido nas placas de bronze que ladeavam a fachada e também nas ementas. Num cardápio de 1937 (Arquivo Municipal de Lisboa), a iguaria mais cara eram as "Truffes au Champagne", que custavam 30$00 e figuravam na secção de legumes e saladas. Nos hors d"oeuvres, a escolha ia desde "caviar" a 24$00 até "atum português" em óleo a 4$00. Nas spécialités de la maisonencontramos um "frango sauté à Tavares" a custar mais 5$00 que o "linguado Grand Duc", que levava trufas, cujo preço se ficava pelos 15$00, abaixo dos 18$00 que valiam os champignons sautés. Uma última curiosidade vai para os queijos, onde uma porção de flamengo valia 3$00 e o Serra apenas 2$50.
Em 1940 o Tavares abre falência. O Diário de Notícias de 8 de Outubro noticiava que o recheio tinha sido leiloado em hasta pública. Entre outros desbaratos, o jornal destacava que um lote de 106 pequenas colheres da Christofle tinha sido arrematado por 150$00. Nos anos seguintes o restaurante foi gerido por algumas sociedades de forma titubeante até 1956, quando uma nova gerência evitou que o espaço mudasse de ramo comercial, conforme é referido em O Chiado Pitoresco e Elegante. O livro conta ainda que no jantar de reabertura, a 14 de Janeiro, foram servidos "robalos à irmãos Tavares" e "franguinhos à Manuel Caldeira", aos ilustres convidados dessa noite. Entre os convivas, o jornal O Cronista (n.º39) refere a presença do Almirante Gago Coutinho que, apesar dos 86 anos de idade, "se manteve até ao final, três horas da madrugada, sempre bem-disposto".
- Nome
- Tavares
- Local
- Lisboa, Encarnação, Rua da Misericórdia, 37
- Telefone
- 213421112
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 23:00
- Website
- http://www.restaurantetavares.pt
- Preço
- 70€
- Cozinha
- Autor
- Espaço para fumadores
- Não