No ano em que atinge o 150.º aniversário como restaurante de luxo, o Tavares parece estar a viver mais uma das suas aparentemente inesgotáveis vidas. A turbulência que tem acompanhado este percurso de século e meio de elegância e requinte parece ter o condão de transformar episódios negativos em momentos marcantes que acabam por sublinhar a sua importância e reforçar-lhe o estatuto.
Quem foi o autor da luxuosa decoração de 1861?
A ficha do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico) onde consta a classificação do Tavares como imóvel de "Interesse Municipal" indica que Vicente Caldeira (1861) entregou o projecto a Hermógenes dos Reis, figura de quem se sabe muito pouco para tão notável obra. A informação existente é escassa e está dispersa por vários arquivos. Sem saber a data de nascimento, foi preciso recorrer a uma solução mais incomum. Tentar encontrar o registo de óbito nos cemitérios do Alto de São João e dos Prazeres, os mais antigos de Lisboa.
A chave do enigma estava no cemitério dos Prazeres, onde figura o óbito de Hermógenes Júlio Quadrio dos Reis a 28 de Novembro de 1918, solteiro com 55 anos de idade. O registo aponta 1863 como ano de nascimento, ou seja, após a transformação do restaurante, em 1861.
Hermógenes dos Reis fez carreira no Ministério das Obras Públicas e em 1884 acumulou a função de desenhador com a frequência da Real Academia de Belas Artes. Em 1897 regressa de uma temporada em Paris e retoma a actividade. O estilo Belle Époque que imperava na capital francesa e a corrente Art Nouveau certamente o inspiraram na decoração que projectou para o Tavares em 1903, ao aceitar o desafio de Manuel Caldeira.
Em relação a 1861, e segundo refere Gustavo de Matos Sequeira em O Carmo e a Trindade, Vicente Caldeira terá encomendado lustres imponentes, moldes para fazer relevos em gesso e espelhos venezianos para ornamentar o salão. Analisando esse período das artes decorativas, os nomes mais sonantes que surgem são os de Giuseppe Luigi Cinatti e Achilles Rambois, que foram responsáveis por obras relevantes do romantismo português. A dupla italiana brilhava com as imponentes cenografias que projectava para as óperas do São Carlos e por isso era também muito solicitada pelas elites da época para recriar ambientes esplendorosos em construções palacianas. Não se encontrando registos que indiquem quem foi o decorador do Tavares na transformação executada há 150 anos, é plausível aventar a hipótese de Vicente Caldeira ter sido aconselhado por Cinatti ou Rambois, uma vez que naquela época quem queria causar impacto na decoração de um espaço, e tinha dinheiro, era a eles que recorria. Terão sido estes dois artistas os autores. A incógnita subsiste.
- Nome
- Tavares
- Local
- Lisboa, Encarnação, Rua da Misericórdia, 37
- Telefone
- 213421112
- Horarios
- Terça a Sábado das 12:30 às 14:30 e das 19:30 às 23:00
- Website
- http://www.restaurantetavares.pt
- Preço
- 70€
- Cozinha
- Autor
- Espaço para fumadores
- Não