A saída da Mauritânia faz-se pelo Parque Nacional de Diawling, onde os jipes se vão cruzando com (e desviando de) cobras, vacas, camelos, javalis. O Senegal já está perto. A menos de meia hora, calculamos. Mas a proximidade da fronteira trouxe consigo uma nova aventura. A cerca de dez quilómetros da saída mauritana, onde as dezenas de jipes já se tinham juntado, o camião atascou no lodo. E as primeiras tentativas de o resgatar revelar-se-iam infrutíferas. Foram necessários reforços, que chegaram sob uma nuvem de pó. E, mesmo com estes, as tentativas de levar a bom porto o desatascanço não pareciam querer vingar. Foi preciso atingir o limite - 30 minutos antes do encerramento da fronteira - para o camião se convencer a sair da lama onde se enfiou de mergulho.
Conseguido o passe de saída da Mauritânia, também há que atravessar uma espécie de "Terra de Niguém" para chegar ao destino final. Mas esta é abençoada pelo curso de um rio e revela-se de um verde que arriscaríamos a descrever como vibrante após dias em que os olhos se viram inundados por cores secas.
Para trás, ficaram os véus e os panos a cobrirem os corpos femininos. Em território senegalês, são substituídos por exuberantes chapéus. Os homens, altos e de sorriso aberto (e completo), exibem roupagens brilhantes, de tão limpas, enquanto as mulheres se pavoneiam em cores garridas que formam generosos decotes, ao mesmo tempo que mostram cabelos armados numa multiplicidade de penteados (uma delas tenta mesmo trocar uma bebé por uma máquina fotográfica, num claro manifesto do valor que a vida humana representa nesta África subsariana). Imagens que entram em choque com toda a envolvência marcada por metros e metros quadrados de lixo a céu aberto - onde rebanhos aproveitam para pastar - ou, como no caso da frenética St. Louis, pelas miudezas de peixes esventrados que impregnam todo o ar respirável ao longo do porto de um cheiro nauseabundo.
Seria na manhã seguinte que nos deixaríamos envolver pela beleza que o Senegal encerra, ao acordarmos junto ao lago Rosa ainda antes do despontar do sol. As imagens que se seguiriam seriam de uma placidez tão semelhante à do deserto e far-nos-iam desejar que Dacar estivesse um pouco mais distante. Também as gentes senegalesas nos surpreendem ao nos presentearem com objectos de artesanato que pagamos com roupas, toalhas, sacos-cama.
Mas era dia de cumprir o destino: completar um percurso que em 2008 abandonou terras africanas por falta de segurança e rumou à América do Sul. Quatro anos depois, asseguramos: o desafio Portugal-Dakar foi vencido.
A Fugas acompanhou a expedição Portugal-Dakar Challenge a convite da Global Challenges - Experiences of a Lifetime
Actualização (03.02.2012): correcção de tempo passado entre fronteiras marroquina e mauritana e inclusão da presença de ecoguias na travessia do Banc d'Arguin, Mauritânia.