Fugas - viagens

  • Miguel Manso
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As noites e os dias de Budapeste

Do outro lado do Danúbio, aglomeravam-se os bárbaros que haveriam de dar o golpe final no colapso de Roma. Ao longo dos séculos, a Hungria foi terra de hunos, foi ocupada por mongóis, por turcos e pelos Habsburgos austríacos. Já no século XX, alinhou com as forças do Eixo e perdeu dois terços do seu território no final da I Guerra Mundial. Sofreu depois a ocupação da Alemanha nazi e, de seguida, e libertação e posterior ocupação pela União Soviética. Histórias que a cidade não esconde. Exemplo prático: o café Jungendstil. Fica na Honved Utca, à Szabadsag Tér (Praça da Liberdade), no rés-do-chão de um edifício restaurado segundo o projecto original, da autoria de Emil Vidor, um dos mais importantes arquitectos da Arte Nova húngara. No interior, acolhidos para um chá, entre as tapeçarias, as fotos de início de século XX ou estátuas de graciosidade neo-clássica; rodeados pelo mobiliário que oferece ao espaço um ambiente curioso de museu vivo - sem a sensação de falsidade que emana dos habituais locais para turista ver -, acabaremos por prestar atenção a uma foto da fachada do edifício. É de 1997. Vê-se a tinta descascada, pedaços de tijolo expostos, as inevitáveis marcas de balas nas paredes que ainda estão expostas em vários edifícios da cidade, memória da Revolução de 1956, violentamente reprimida pelos tanques soviéticos, e as portas de entrada substituídas por uma adaptação tosca: porque o pé-direito era alto o suficiente para racionamento socialista, dividiu-se o rés-do-chão para dar lugar a dois andares. A nova Budapeste reconcilia-se consigo mesma.

Caminhando uns metros até à Szabadsag Tér, temos representada simbolicamente a encruzilhada que representou a segunda metade do século XX húngaro. Chegados da Honved Utca, somos recebidos por um monumento de homenagem aos soldados soviéticos que libertaram a Hungria da ocupação nazi - o único da cidade onde ainda se vê a estrela soviética de cinco pontas. À sua direita, discreta, a estátua de um homem em tamanho real, plantada na calçada como se de um passeante se tratasse. É Ronald Reagan, disponível para fotografias como se exposto no Madame Tussauds. O monumento soviético está protegido por ter sido várias vezes vandalizado. À sua esquerda, uma grelha de barras, placas elevatórias e outras protecções distinguem-se pela forma como destroem a harmonia da praça. É o edifício da embaixada americana, auto-enjaulado depois do 11 de Setembro de 2001. Um pedaço de história plasmado em três imagens: o soldado soviético, Ronald Reagan, uma embaixada protegida de forma delirante.


Um café a saber a 1970

Há algumas semanas publicámos no Ípsilon uma entrevista a Béla Tarr, o mais célebre realizador húngaro da actualidade, a propósito da estreia do seu último filme, O Cavalo de Turim. Nela, Tarr mostrou um pessimismo insustentável acerca do presente da Hungria: "As pessoas estão a enlouquecer, os políticos são péssimos. O que eu vejo neste país é que as pessoas estão cada vez mais pobres e têm cada vez menos esperança nalguma coisa". Anita Komuves, jornalista do diário Népszabadság (Liberdade Popular), não partilha dessa visão drástica. Fala-nos de um país dividido entre o saudosismo da geração que viveu o socialismo pela segurança que o Estado oferecia e uma nova geração que, apesar dos problemas e das convulsões do presente - a crise financeira também se sente e o polémico governo conservador e populista de Viktor Orban divide os húngaros -, olha o futuro com "esperança e imaginação".

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