Fugas - viagens

  • Miguel Manso
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As noites e os dias de Budapeste

Numa cidade recheada de parques e praças, uma das mais célebres actualmente é a Erzsébet Ter (Praça Isabel), junto do mais importante interface de transportes da cidade, o Deák. É ali que encontramos o Akvárium, construído sobre as fundações daquele que seria o "novo" Teatro Nacional. Alterada a sua programada localização, nasceu no espaço um lago artificial de fundo vidrado. Abaixo, uma discoteca e sala de concertos com actividade diária. Da rampa que dela sobe, passando o caixão aberto onde colocaram um CD em câmara ardente (bom humor húngaro) estende-se um parque verde, alguns postos de venda de cervejas e aperitivos. À medida que o dia avança, o parque enche-se de gente, maioritariamente jovem, que traz comida chinesa comprada nas proximidades para um almoço na relva. Por perto, os habituais malabaristas que jogam ao diablo e aos malabares mas que, nas suas camisas de marca e ausência de rastas, são quase uma versão betinha dos seus equivalentes latinos. Ali descansa-se ao sol, lê-se, anda-se de skate e de bicicleta, vê-se pessoal do hip hop carregar às costas colunas que debitam rimas e beats em volume considerável. Ali, o centro da Budapeste jovem, pós socialista, consumista certamente, passeando para ver e ser vista. Uma geração sem constrangimentos, provavelmente essa que, como nos disse Anita Komuves, saiu para ver o mundo e trouxe novas ideias. Ainda assim, Budapeste continua a construir-se da tensão e dinâmica entre o seu passado rico e tumultuoso e um futuro em aberto.

Vivê-la assemelha-se, de certa forma, à experiência de navegar no Danúbio numa pequena lancha, actividade turística banal (mas com um twist húngaro). Recostados nos bancos, vemos as duas margens, património mundial da Humanidade, ao som de Vivaldi e passamos os olhos pela ilha Margarida com a sua pista de jogging de cinco quilómetros e com os muitos bares que fervilharão de actividade no Verão. Num repente, a lancha acelera e Vivaldi desaparece de cena, substituído pelo hard rock dos AC/DC, e a viagem torna-se trepidantemente cómica pelo casamento nonsense da guitarrada e berraria com a imponência da paisagem. Mas não, não será bem isto. O divertido espalhafato da viagem não exprime bem o que é a cidade. Reformulemos. Descobrir Budapeste pode ser comparável à experiência de passar umas horas num dos seus famosos banhos. Percebemo-lo nos Szécheny, inaugurados em 1913, na Állatkerti Korut, a um passo do Parque da Cidade. Primeiro sentimos estranheza perante as 15 piscinas a diferentes temperaturas, perante a sauna que queima e a sala de vapor quente com cheiro a ervas e eucalipto que parece incinerar as narinas e as vias respiratórias a cada inspiração. Do quente para o frio, do frio para o quente. Duche, mergulho, sauna, mergulho, duche, vapor, mergulho, duche. Rapidamente nos habituamos àquela rotina de algumas horas. Mais do que isso. No final, percebemos perfeitamente porque há o hábito de, em ocasiões festivas, ir directamente da animação para os banhos. Saímos dali regenerados.

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