Do verde para a praia
Tocam as dez badaladas e a festa sai à rua, naquilo que nos parece uma anarquia organizada. O desfile arranca com barulhentos e espalhafatosos grupos de gigantones e cabeçudos, gaiteiros e bombos. De vez em quando alguém sai das fileiras de assistência e dança com os participantes, incentivando-os a brilharem ainda mais. Seguem-se as concertinas, os grupos folclóricos, as bandas musicais. E depois, claro, erguem-se os martelos e os alhos-porros, enquanto se multiplicam as músicas e as festas noite fora. Sempre muito eclécticas. Como duas bandas filarmónicas que, ocupando dois palcos lado a lado, se vão intervalando entre o repertório dos Xutos&Pontapés e as músicas dos Abba.
É sem banda sonora que chegamos à praia de Moledo num dia cinzento e chuvoso. O oposto do que precisaríamos para um trabalho de Verão. Mas São Pedro trocou-nos as voltas e encontramos um areal deserto a travar as águas limpas e revoltas do oceano. Num dia de sol, não acusando sobrelotação, esta praia estaria cheia. Tanto de veraneantes atraídos pelas qualidades terapêuticas atribuídas à grande quantidade de iodo existente, como por adeptos de desportos náuticos que vêem naquelas águas nada calmas uma oportunidade para desfrutar de horas e horas de surf, windsurf, kite-surf oubodyboard.
Ainda assim, mesmo sob uma chuvinha contínua, não deixamos de observar as casas, que mantêm a traça original de fins do século XIX, início do século XX. São edifícios pensados por famílias abastadas do Norte que, de Verão, procuravam refúgio no sossego de Moledo. Claro que, depois disso, a praia depressa deixou de ser um paraíso isolado para passar a constituir uma espécie de estância balnear para uma classe endinheirada, que, de Agosto em Agosto, vai transformando a pacata e idílica vila piscatória num centro político e cultural que torna os cafés em antigos espaços de tertúlia.
Também em Vila Praia de Âncora, localidade que mantém uma forte actividade piscatória, o paredão é um desfilar contínuo de turistas que escolhem esta praia pelo refúgio que a foz do rio Âncora proporciona. Isto em dias soalheiros, claro. Mas, mais uma vez, não avistamos mais do que uma meia-dúzia de pescadores à linha.
O infortúnio meteorológico obriga-nos a repensar a estratégia e a elaborar um regresso à região. Voltaríamos duas semanas depois, com o céu azul, o sol quente, as praias cheias, os cafés borbulhantes de conversas e as ruas animadas por corrupios de gente. E então compreenderíamos, como admitimos no início: o Minho não é para gente apressada. Mas basta esquecer o relógio e esperar um bocadinho para que a região saia da sua concha e se revele em todo o seu esplendor de verde, de história e de mar. E de uma alegria contagiante.
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GUIA PRÁTICO
GERÊS
Onde comer
Flor da Cabreira
Lugar Cerdeirinhas. Tabuáças - Vieira do Minho. Tel.: 253647370; 916528004
GPS: 41.633179, -8.103636
Entre as suas especialidades, vitela assada, rojões à moda do Minho, bacalhau com batata a murro. Todos os dias das 12h às 21h.