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Danças com bois

Por Carla B. Ribeiro

Nas aldeias raianas de Ribacôa, no distrito da Guarda, não há Verão sem festa rija. E estas festas da Beira Interior arrancam logo de madrugada. Tudo por causa dos bois. Fomos espreitar as capeias arraianas, declaradas Património Cultural Imaterial de Portugal.

Parece-nos que o dia mal nasceu, mas pelas ruas que palmilhamos já andam centenas de pessoas. A pé, de jipe, de moto, a cavalo. Todas com o mesmo destino: ir fazer o encerro dos bois para cumprirem uma capeia arraiana, “uma tradição única no mundo” que consiste no acto de receber o boi ao forcão, um triângulo de 4,7m x 4,5m x 4,7m, executado em madeira de carvalho e que pesa cerca de 300 quilos. Uma unicidade que fez com que aquela tenha sido, em 2011, a primeira manifestação cultural a ser registada no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

Para nós, sem ponta de febre tauromáquica no corpo, as festas que invadem em Agosto nove aldeias do concelho do Sabugal, distrito da Guarda, revelam-se estranhas. E, já se sabe, tudo o que envolve tourada pode ser fascinante para um grande número de gente, mas desconfortável para outro tanto.

Mas, como muitos sublinham, n’ Aldeia da Ponte, n’ Aldeia do Bispo, n’ Aldeia Velha, em Alfaiates, nos Foios, nos Forcalhos, na Lageosa da Raia, na Rebolosa e no Soito “não se pica, não se espeta, não se maltrata os bois de forma alguma”. Por isso, antes ainda de partirmos pelos caminhos poeirentos, sacrificados pelos rodados de motos e carros, tratamos de pôr preconceitos à parte. Até porque, mais do que encetar teorias sobre o facto, nesta que é a primeira capeia do ano, a da Lageosa, o que é preciso mesmo é juntar e apanhar os animais, libertados na véspera. Aliás, apanhar não é o melhor termo; a única coisa que se faz é encaminhá-los, usando para tal a ajuda dos mansos cabrestos. Já os bois assumem a missão de imprimir animação a rodos. Ora fogem, ora investem; ora viram à direita, ora invertem a marcha.

Como no preciso momento em que chegamos ao local onde estariam a ser cercados. Ao mesmo tempo que saltamos uma vedação de arame farpado para nos pormos a salvo (e nele deixamos um bocadinho do tecido das calças), várias pessoas saltam para carrinhas de caixa aberta ou para dentro dos jipes. Nós também acabaríamos dentro de um, cujo proprietário nos levaria numa corrida atrás dos animais. Ouvem-se roncos de motos e gritos que nos orientam na direcção dos bichos — “Estão a ir para baixo! Estão a ir para casa.”

Os bois escolhidos pela aldeia da Lageosa fazem parte de uma ganadaria local — do Zé Nói, informam-nos — e assim que se sentiram acossados, em vez de alinharem no caminho proposto que os levaria à praça daquela aldeia, optaram pelo trilho contrário. Pelo caminho, um dos bois ainda consegue atingir um cavalo. Mas nada que tivesse um desfecho dramático. Pelo menos no local: o animal foi retirado do lameiro e transportado ao veterinário.

Ainda faltava conseguir que os bois alinhassem no jogo. Porém, continuamos a vê-los a passar de um lado para o outro. Alguns, cansados, desistiram de fugir e enfiaram-se entre as densas giestas. Vários homens gritam-lhes como que a desafiá-los, mas a sombra da giesta e o momento de repouso parece ser mais aliciante.

Já sobre os restantes, as informações contradizem-se: uns dizem que agora só se conseguem apanhar no alto, outros que o melhor é tentar travá-los antes que passem a estrada. Junto ao asfalto, carrinhas, motos, jipes posicionam-se estrategicamente no topo dos maciços de rocha. Alguns aproveitam o momento de pausa para a merenda: dos carros vão saindo pão e queijos, presuntos e chouriças, além de garrafões de vinho. Outros, como um grupo de mulheres, literalmente dos oito aos 80 anos, numa carrinha de matrícula espanhola, permanecem nos poisos mais cimeiros de onde conseguem acompanhar a acção. Mas há ainda quem se prepare para tudo. É o caso de uma mulher que não tira a mão de uma árvore à beira da estrada. De vez em quando há um alarme falso de que os bois vêm aí. E então, além da mão, a mulher coloca o pé a jeito no tronco. “Estás a preparar-te para trepar?”

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