Fugas - Viagens

Antony Njuguna/Reuters

Continuação: página 3 de 9

De Nairobi a Ngorongoro num camião chamado Cristina

Os habitantes da aldeia Masai recebem-nos com cânticos. A dança, masculina, é constituída essencialmente por saltos vigorosos sem sair do lugar. Rui, o mais bemhumorado participante nesta viagem, não resiste e junta-se à dança, tentando saltar o mais alto possível. Primeiro calçado e depois descalço. Os dançarinos não entendem isto como uma eventual profanação de um ritual, mas antes acolhem com bonomia este estreante de bigode pouco comum naquelas paragens.

Andam por ali cabras, ovelhas, galinhas e centenas de moscas que não largam a cara das crianças, que já nem as espantam. As vacas estão a pastar noutro local. Jackson comenta que a base da alimentação Masai é constituída por uma mistura de leite com sangue de vaca, que lhes retiram sem as matar. Comer animais só mesmo em último recurso.

As casas dos Masai são feitas pelas mulheres com barro e madeira. Demoram cerca de seis meses a concluir e duram aproximadamente 15 anos, após o que são abandonadas. A área total não vai além da sala de um apartamento espaçoso. Está calor no interior porque há uma pequena fogueira acesa, apesar da tarde quente e de não estarem a cozinhar. A habitação tem três camas: uma para quando vem o marido (os Masai são poligâmicos), outra para a mulher e as crianças pequenas e a terceira para os filhos mais crescidos.

Mesmo com as roupas encardidas e as moscas que não as largam nunca, as crianças parecem mais felizes do que miúdos europeus rodeados de brinquedos que acharam engraçados apenas durante alguns minutos. A globalização também já chegou a este pedaço de África, apesar da vida despojada que os Masai levam. Nesta pequena aldeia havia uma moto de fabrico chinês, um relógio digital Casio, meias com a inscrição USA no canelado e um moderno telemóvel. Outro sinal: no fim da visita, Carmen recolhe dinheiro dos forasteiros para gratificar Jackson.

Reserva Nacional Masai Mara

À noite, o céu africano parece o mais bonito do mundo. Tem mais estrelas, que parecem mais próximas das pessoas. Os ruídos dos animais selvagens, a poucos metros das tendas, são outra impressão forte. E se dizem que as hienas costumam rir, aqui mais parece que protestam por estarem de estômago vazio (o melhor é confiar na tese que defende que, ao verem o grande vulto das tendas, as feras têm receio e afastam-se). E há também ruídos mais familiares, como o dos grilos, semelhante ao de qualquer recanto campestre português. Ou outro, de origem humana, provocado pelo sono "profundo" no interior das tendas.

As 5h30 locais chegam depressa. Lanterna de "mineiro" na testa, no percurso até aos balneários vêem-se excrementos frescos que denunciam a presença dos animais a meia dúzia de metros das tendas. O chuveiro está às escuras porque ainda não ligaram o gerador e o foco de luz da lanterna mostra uma grande aranha perto do gancho onde quero pendurar a roupa. Eventualmente, nada a temer. A aranha, apesar das dimensões avantajadas, parece do género de aracnídeo que se pode encontrar na Europa. Por isso limito-me a colocar a roupa um pouco mais ao lado sem perturbar a aranha.

--%>