Fugas - Viagens

Antony Njuguna/Reuters

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De Nairobi a Ngorongoro num camião chamado Cristina

Às 15h00 locais chega um segundo tractor, mas mesmo assim o camião teima em não se mexer. O atraso obriga a alterar os planos e chamar táxis (normalmente, há rede de telemóvel, tanto no Quénia como na Tanzânia). Em vez de acamparmos uma noite junto ao mítico lago Vitória vamos agora para um hotel. O nosso táxi, uma velha Toyota Corolla só com tracção dianteira, progride indiferente às condições do piso. Apenas as pancadas das pedras no fundo do chassis indicam que aqueles caminhos não são apropriados a este veículo, mas antes a modelos todo-o-terreno.

A certa altura, sem qualquer explicação, o condutor pára ao pé de um casebre feito de tábuas escuras. É um daqueles momentos em que todos sentem algum receio, mas ninguém confessa. Estão três idosos sentados à porta da construção, como numa aldeia alentejana em dia de estio. Um deles saúda-nos quando o condutor entra dentro de casa. Passados uns momentos, este sai com um garrafão plástico transparente com cerca de quatro litros de um líquido escuro. Aproxima-se do bocal do depósito de combustível e despeja o conteúdo lá para dentro com uma garrafa de plástico mais pequena a fazer de funil.

Dezenas de quilómetros depois, trocamos de táxis. Explicam-me que os primeiros não têm dignidade para entrar no nosso hotel, em Kisi. Mas o melhor mesmo é que a estrada é agora alcatroada. Nestas é necessário muito cuidado porque, como as vias não têm passeios, as pessoas usam a berma para caminhar ou até mesmo a estrada propriamente dita. Outra especialidade local são as Toyota Hiace a circular sempre com muitos mais passageiros do que a lotação máxima e com o peculiar de ainda levarem um passageiro extra pendurado no exterior.

À chegada ao hotel, uma passageira pede a um companheiro mais corpulento para este retirar uma "lagartixa" da parede do seu quarto. "Preferia quantas vezes mais a tenda!", brada. Resultado: a "lagartixa" - na verdade uma osga -, não teve um final feliz. À noite, depois do jantar, Cristina já tinha sido libertada graças a muito trabalho braçal para retirar a lama.

Tanzânia e descida à cratera de Ngorongoro

No dia seguinte, entramos na Tanzânia. O visto custa 50 dólares norte-americanos (o dobro do Quénia). Para usar a "casa de banho" do posto fronteiriço é preciso pagar 200 xelins tanzanianos (cerca de 13 cêntimos ao câmbio daquele momento) para utilizar basicamente um buraco no chão. Não há água corrente nem lavatório e as mãos lavam-se num vaso com água e sem sabão. Os xelins locais são-nos vendidos por um homem que sobe ao camião com maços de notas. Prefere dólares, mas também não enjeita euros.

Avançamos para o interior da Tanzânia e almoçamos nas margens do lago Vitória, o maior de África, perto de um lodge dirigido por um casal holandês. Um mergulho nas águas do Vitória seria bastante bem-vindo, mas a holandesa, que fala espanhol, elucida-nos por que é que tal não é possível. "Porque há crocodilos, hipopótamos, sanguessugas e bactérias." Ok, não precisa de dizer mais nada. Mesmo assim valeu a pena ver aquela paisagem, não muito diferente de algumas áreas lacustres da zona de Aveiro, por exemplo, e com as inúmeras andorinhas a esvoaçar a reforçar ainda mais essa sensação de familiaridade.

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