Fugas - Viagens

Antony Njuguna/Reuters

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De Nairobi a Ngorongoro num camião chamado Cristina

A água está fria, o que altera um bocado o ritmo da respiração, mas, com a habituação, o banho até sabe bem e, depois, ajuda a suportar melhor o frio da alvorada. Basta vestir uma t-shirt, mas passado algum tempo o corpo volta a sentir frio e é melhor acrescentar o polar. Outros membros do grupo preferem não tomar banho, à espera que surjam melhores condições, mas como isso não acontecerá tão depressa são obrigados a tomar banho de água fria mais tarde.

Viajar em África não é o mesmo que percorrer uns bons quilómetros em solo europeu. O condutor sabe disso e, apesar de o camião ter apenas quatro anos e cerca de 73.000 km - uma ninharia para um pesado -, verifica os níveis do óleo e água antes de partirmos, ao nascer do sol.

Entramos na Reserva Nacional Masai Mara pelo portão Sekenani. A beleza da paisagem natural vale por si só, mas a certa altura paramos o camião para observar duas famílias de elefantes. Carmen explica que o período de gestação de um elefante é de 22 meses, o maior do reino animal. Um adulto come cerca de 300 kg de erva por dia e pode durar nove décadas. Mas é no momento em que a guia acaba de referir que o macho do elefante africano é maior e mais violento do que o asiático que um exemplar olha para o camião com ar ameaçador. Entre os passageiros notam-se expressões de alguma apreensão.

As girafas, com a sua forma de andar que parece em câmara lenta, suave e silenciosa, têm um ar francamente mais amistoso e até fazem poses para as nossas máquinas. Próximo da hora de almoço chegamos ao rio Mara, que faz fronteira entre o Quénia e a Tanzânia. Atravessamos a ponte e paramos do lado que tem mesas e casa de banho. Os seguranças avisam-nos para não nos aproximarmos da margem contrária por causa dos crocodilos, mas ainda não vemos nenhum destes répteis. Em contrapartida, avistamos três hipopótamos. Carmen avisa que, apesar do ar amistoso, os hipopótamos são o animal africano mais mortífero para os humanos porque, nas suas deslocações entre terra e água, atropelam tudo o que lhes surge pela frente.

O nosso almoço despertou a atenção de inúmeros pássaros e lagartos de tons vivos azuis e amarelos e pequenos macacos, mas era necessário voltar aos solavancos da "estrada". Paramos noutra secção do rio Mara. Outra vez os hipopótamos, mas também crocodilos. Um deles permanece imóvel na margem e as suas cores confundem-se com as da paisagem. Mesmo visto através de binóculos, para quem ainda só tinha visto este réptil em cativeiro, este exemplar afigura-se gigante.

Ao final da tarde, uma forte chuvada ensopa-nos a todos e obriga a acelerar a montagem das tendas, que se torna ainda mais difícil do que o habitual devido às lonas molhadas. Dificuldades que não anulam a boa-disposição. Eduardo, um dos membros do grupo, fica só em calções e ensaboa-se com gel de banho. A chuva continua, intensa, e é preciso montar um toldo agarrado ao camião para jantarmos.

Este acampamento, junto ao portão de Olo Olo Olo da Reserva Nacional Masai Mara, praticamente não tem infra-estruturas. A "sanita" é um buraco sujo e o cheiro nauseabundo afasta qualquer um. Os chuveiros são melhores, mas ainda assim pouco convidativos. Dois viajantes planeiam negociar um banho numa das casas dos rangers, mais acima, mas acabam por desistir, porque até aí as condições não são as mais aprazíveis.

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