Fugas - Viagens

Antony Njuguna/Reuters

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De Nairobi a Ngorongoro num camião chamado Cristina

A próxima etapa é entrar no Parque Nacional do Serengheti pelo acesso de Ndabaka. Aqui podemos percorrer quilómetros de paisagem sem animais. Também vemos várias queimadas, ateadas propositadamente para servirem como corta-fogos.

Mas quando os animais surgem torna-se bastante compensador e o Serengheti mostra por que é um dos santuários mundiais da vida selvagem. Cerca das 9h30 locais, avistamos uma leoa à sombra de uns arbustos. A poucos metros do nosso camião, o felino decide ir beber água, muito calmamente, a um pequeno ribeiro e, pelo caminho, satisfaz necessidades fisiológicas. Percebemos então que esta leoa lidera um grupo composto por mais três leoas e que está a ser monitorizada pelas autoridades do parque, como indica a coleira que traz ao pescoço.

No Serengheti existe tanta vida selvagem que, talvez devido ao acumular de quilómetros em cima do camião, acabamos até por prestar pouca atenção quando repetidamente avistamos elefantes, girafas ou até hipopótamos. Já ao final da tarde entramos no Parque Nacional de Ngorongoro e, à medida que o caminho sobe, a paisagem tem mais vegetação e o verde é mais viçoso e escuro, um pouco à semelhança dos Açores. Vamos em direcção ao Rhino Lodge - o mesmo é dizer da estadia mais confortável desta viagem.

Caçar leões e elefantes

No balcão do lodge, Vincent, um tanzaniano de 39 anos, que trabalha como guia turístico com o seu próprio Toyota Land Cruiser, expressa o seu desalento sobre a condição pátria. "Era suposto sermos um país rico, mas somos um país pobre." Para além do turismo, a Tanzânia tem diamantes e produz café, milho, arroz, bananas, chá e sisal.

Outra fonte de rendimento é a caça, autorizada fora das reservas nacionais. Algo que alemães e americanos apreciam, entre os meses de Julho e Novembro. E que, naturalmente, não está ao alcance de todos. Só a licença de caça custa 750 dólares, a que se soma o preço de cada peça de caça abatida. Vincent garante que um leão custa 12.000 dólares e um elefante 24.000.

Tem dois filhos. O mais velho tem 24 anos e estuda no Quénia "porque é mais barato do que na Tanzânia", onde estuda o mais novo, de 12 anos. Vincent também estudou o que deveria bastar para ser professor, mas não conseguiu. Já esteve no Quénia e no Zimbabué e não rejeita a possibilidade de voltar a emigrar. "O meu plano é ir para o estrangeiro, Europa ou Estados Unidos, para ver como a vida é melhor lá." A sua mulher é enfermeira e Vincent revela que o rendimento mensal de ambos não chega a 200 dólares.

Este guia interroga-se como é possível que, no século XXI, ainda existam os Tatoga, ou homens dos arbustos, que, segundo a sua descrição, não constroem casas e vivem em rochedos ou debaixo das árvores. Nunca vêem brancos e, se avistarem um, fogem. Bebem água das chuvas ou do orvalho nas árvores e comem bananas, raízes e carne crua de animais selvagens.

Na opinião de Vincent, a Tanzânia "precisa de construir fundações fortes" e "tem de apostar na educação". O que não será a melhor receita para o curto prazo porque os tanzanianos mais instruídos acabam por emigrar à procura das oportunidades de que não dispõem no seu país. Nomeadamente, para a África do Sul.

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