Edifícios governamentais (o Ruler's Court) intrometem-se e pouco depois é a Grand Mosque, a grande mesquita, que se exibe. Como todas as mesquitas no estado (excepto a Jumeirah), é interdita a não crentes, mas todos podem admirar os azulejos azuis celestes das suas fachadas que se desfazem nos minaretes, incluindo o mais alto do Dubai, entre dezenas de cúpulas. Apesar de parecer mais antiga, foi construída apenas em 1998, réplica de outra, datada de 1900, e à sua volta estamos no coração histórico do Dubai.
Antes dos superlativos, o que vemos nestas ruas estreitas era o Dubai. O Dubai mais afluente e pós-1861, quando esta área começou a ver crescer edifícios construídos com a matéria-prima que estava ali ao lado, as pedras do Creek unidas, à falta de cimento, por uma mistura de conchas e água salgada agora protegida com argamassa. A arquitectura é tipicamente árabe, com as torres de vento como elemento constante e os pátios centrais como aglutinador da vida caseira.
Mas é numa praça que vemos um camelo deitado ao sol, no que representa um antigo acampamento onde os convidados eram recebidos - só depois seguiam para o interior das habitações. Nesta zona histórica instalaram-se restaurantes que bebem a sua inspiração nas Mil e Uma Noites (numa cidade onde não faltam restaurantes dos quatro cantos do mundo) e as lojas são cavernas de Ali Babá, a transbordar de lanternas, caixas, colares - a Al Bajil é quase irrespirável. Mais recentemente começaram a chegar galerias de arte e há edifícios que serão musealizados.
O Dubai popular abre-se ainda deste lado do Creek, no souk dos tecidos e noutras ruas onde o comércio é constante em prédios antigos e pouco cuidados. É zona de imigrantes, que vendem de tudo, de panelas gigantescas penduradas à porta a electrodomésticos alinhados em frente às montras. De abra, pequenos dhows que são transportes públicos, atravessamos o Creek e neste pedacinho sentimos um pouco Veneza, quando vemos o vaivém de barcos engalanados de toldos e bandeiras multicolores que rasgam as águas, e olhamos os edifícios rentes à água.
Do outro lado, os dois souks mais populares do Dubai - em todos os sentidos - esperam-nos. Mais junto à água, o das especiarias, típico nas suas bancadas que se sucedem em diversos corredores, na desordem ordenada, nas multidões langorosas, na insistência simpática e no regateio cordial. Umas ruelas acima, alguns restaurantes e lojas baratas depois, o souk onde o Dubai foi buscar o epíteto original de "cidade do ouro". Aqui, em ruas que se cobrem e descobrem, sucedem-se ourivesarias e, logo na primeira, mais um recorde, "certificado pelo Guiness", o "maior anel de ouro do mundo". E em ruelas escondidas descobre-se tudo: de roupa a refrigerantes, de mercearias a artesanato. Mais óbvias, mas ainda assim discretas, são as mesquitas que acontecem em várias esquinas, reveladas muitas vezes apenas pelo calçado exposto à entrada.
A caminho das estrelas
Dos 50 mil habitantes de meados do século passado, o Dubai saltou para os dois milhões actuais, a esmagadora maioria expatriados e trabalhadores estrangeiros (cujas condições de vida e trabalho no emirado tantas dúvidas têm levantado) que vieram cavalgar os ventos de bonança neste oásis do mundo árabe - pelo dinamismo, pelo dinheiro em permanente movimento e também a maior liberdade de costumes (os bares e discotecas são afamados e sexta-feira pode ser o dia santo, mas é também dia de muitos brunches de champanhe) o tornam um local mais aprazível numa região pouco habituada a tal. E a sua sede incomensurável de criar caprichos arquitectónicos, alimentada pela sua determinação em transformar-se no centro comercial do mundo e no parque de diversões universal (ou vice-versa, é uma relação de simbiose na qual não se sabe o que vem primeiro), resultaram num verdadeiro íman cosmopolita. Novas "zonas livres" especializadas estão a ser planeadas para garantir que o comércio e indústrias mundiais continuem a passar por aqui e os projectos de lazer são inesgotáveis - o Dubailand está a caminho de ser o maior complexo de entretenimento que o mundo já viu e já foi anunciada a reentrada do Dubai na corrida para abrir o primeiro hotel subaquático. Quanto aos edifícios, entre projectos abortados e suspensos, mantém-se o sonho da Dubai City Tower: conclusão prevista para 2025, a 2,4 quilómetros de altitude...