Fugas - Viagens

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O futuro é o presente do Dubai

Por Andreia Marques Pereira

De pequena cidade portuária a metrópole cosmopolita a distância foi a de uns poços de petróleo aliados à visão de um entreposto comercial e de lazer global. O Dubai é o grande bazar mundial entre o luxo das Arábias e o limite da imaginação. 

Há uma espécie de névoa a cobrir permanentemente a cidade do Dubai. Vemo-la quando observamos o skyline ao longe. É pó em dança permanente animada por vento omnipresente que sopra de noroeste, o shamal. Poucas vezes lhe sentimos as benesses directas, mas quem vive nestas paragens áridas há séculos conhece-lhe as manhas e aprendeu a usá-lo a seu favor.

As "torres de vento" (barajils) são disso paradigmáticas, um "ar condicionado" primitivo que no início do século XX eram a marca mais distintiva do skyline do Dubai. No início do século XX eram, aliás, o único skyline do Dubai e, claro, chamar skyline à silhueta citadina que se erguia nas margens do Golfo Pérsico é uma liberdade de retórica. Que levamos até 1979, quando se ergueu aquele que é considerado o primeiro arranha-céus da cidade, o World Trade Center, e as torres de vento começaram a ser substituídas por ar condicionado.

Trinta anos passados a diferença é abismal e nem sequer é necessário recuar tanto para ver a vertigem em que o Dubai se tornou: comparar fotografias da Sheikh Zayed Road, a principal via da cidade e aquela onde os prédios se começaram a erguer, do início dos anos 1990 com actuais é um regresso ao passado que não cabe em 20 anos. O Dubai chegou ao futuro com a velocidade de um sprinter e, não contente com tal proeza nunca antes vista numa cidade, agora entretém-se a engendrar novos mundos. Bem-vindos, portanto, ao Dubai, onde o passado é nota de rodapé e o presente é já o amanhã.

É difícil hoje descobrir torres de vento no Dubai. As torres que agora se erguem são outras, são os arranha-céus caprichosos que riscam volumetrias caprichosas no que é o skyline da cidade, a sua imagem de marca onde buscamos rostos familiares - e o mais inconfundível é o famoso Burj Al Arab, o verdadeiro hotel das Arábias que já foi o mais alto do mundo mas que não precisa desse título para se distinguir, com o seu perfil de vela enfunada sempre preparado para levantar âncora e partir, mar adentro; porém, o mais famoso desde há dois anos é o Burj Khalifa, que tem uma silhueta de catedral gótica moderna, mas o que realmente importa é que, do cimo dos seus 829 metros, é o edifício mais alto do mundo.

E este é apenas um dos vários recordes que ostenta, no que parece resumir a sede que se apoderou do emirado em anos recentes: a de construir mais, melhor e maior, ou então o mais imprevisível e excêntrico, num desvario megalómano. De que outra forma se pode explicar que num local onde as temperaturas poucas vezes baixam os 30 graus e muitas vezes ultrapassam os 40 se possa esquiar? Ou que dizer da ilha Palm Jumeirah, concluída, ou do arquipélago "The World", em construção, com forma de palmeira e dos cinco continentes, cujas formas só podem ser compreendidas do ar e são visíveis do espaço? Não há muita subtileza nesta terra, onde o limite já não é o do céu, mas o da pura imaginação, e essa é também uma fonte de riqueza do Dubai, que não é país, não é (só) cidade - é qualquer coisa de intermédio e isso pode ser esquizofrénico.

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