A inocência desta pequena localidade, que atravessamos dentro da carrinha, haveria de contrastar com Marraquexe, já a apenas alguns quilómetros de distância. Por esta grande cidade, o trânsito, por onde se cruzam jaguares e lamborghinis com carripanas para quatro onde cabem sete ou mais, parece enlouquecido. Depois, há hotéis que parecem saídos das mil e uma noites - um dos melhores hotéis do mundo, o La Mamounia, fica numa das principais artérias de Marraquexe - e lojas de marcas conceituadas a nível mundial; mercados em terra batida com toda a espécie de velharias e espaços imaculadamente belos, como os Jardins Majorelle, recuperados por Yves Saint Laurent e Pierre Bergé. Aqui, além da casa onde aqueles viveram e de um Museu Berbere, o que mais se distingue é a cuidada e ecléctica flora que forma um ambiente único, refúgio perfeito sobretudo quando o calor atinge a cidade. Nesta espécie de jardim botânico em miniatura, decorado ao jeito de uma Art Déco de inspiração muçulmana, há plantas exóticas, jogos de água, flores coloridas. E o tempo parece abrandar. Até se voltar à rua: as pessoas andam depressa e parece haver tantos turistas quanto residentes. E, à noite, há bares abertos com ritmos dançantes, onde o álcool se serve como se se estivesse numa discoteca em Lisboa. A saber: a indumentária pode ser informal e os ténis entram sem problemas; já os calções parecem não ser bem vistos (valeu ao fotógrafo da Fugas a prevenção: trazia na mochila, juntamente com as lentes e outros apetrechos, o pano que faltava a estas calças safari).
Mas Marraquexe, cidade de sete padroeiros, é mais que isso e um dos pilares que continua a fomentar o turismo é a religião. "Há muita gente que vem a Marraquexe para visitar os mausoléus dos santos e pedir sorte para a vida", explica-nos o guia que nos leva a trote pelo souk integrado na medina, ao longo da qual não nos podemos distrair. Além dos burros e das mulas aos quais já nos havíamos habituado em Fez, por aqui temos de nos preocupar com as motas e motoretas que não só parecem circular como se não houvesse mais nada no caminho como deixam atrás de si um rasto de emissões de gases que faria corar os criadores das normas europeias.
Pelo caminho não há um segundo sequer que não nos cruzemos com turistas: franceses, alemães, espanhóis, americanos... Talvez sob o efeito de uma overdose turística, os habitantes desta cidade não se mostram tão hospitaleiros quanto em Tânger, Chefchaouen ou Fez. Sobretudo se afrontados. E não é preciso muito para que algum comerciante se sinta agredido de alguma forma. Por isso, o melhor é ter cuidados extras com a forma como se fala. Não que algo de mal possa acontecer (até porque as zonas turísticas são sobejamente vigiadas), mas para evitar dissabores numa viagem que se quer mágica. Até porque é isso que, dia após dia, mais se sente na Jemaa el-Fnaa. Como que por magia, e envolta numa espessa nuvem de fumo, a praça transforma-se do dia para a noite, passando de mercado a céu aberto a zona de recreio e restauração. O momento pode ser testemunhado numa das várias esplanadas montadas no topo dos edifícios que rodeiam a praça e que são ocupados por cafés que pedem em troca da vista o consumo de algo.