Fugas - Viagens

  • Museu Nacional
    Museu Nacional Ricardo Moraes/Reuters
  • Detalhe do Congresso Nacional do Brasil
    Detalhe do Congresso Nacional do Brasil Roberto Jayme/Reuters
  • A Justiça, estátua no Supremo Tribunal de Justiça
    A Justiça, estátua no Supremo Tribunal de Justiça Ricardo Moraes/Reuters
  • Congresso Nacional do Brasil
    Congresso Nacional do Brasil Ricardo Moraes/Reuters
  • Congresso Nacional do Brasil
    Congresso Nacional do Brasil Ricardo Moraes/Reuters
  • Ponte Juscelino Kubitschek
    Ponte Juscelino Kubitschek Ueslei Marcelino/Reuters
  • A Brasília em jardim
    A Brasília em jardim Jamil Bittar/Reuters

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Brasília: Morar nesta cidade inventada é "coisa boa"

Hoje, viver nestes bairros não está ao alcance de todos: um apartamento com três quartos pode chegar aos 700 mil euros e a renda mensal ficará algures entre os 2000 e os 3000 (um funcionário com curso superior ganha no Congresso, em média, 5000 euros, mas o ordenado mínimo brasileiro fica muito aquém - não chega aos 230).

Gorovitz resume a estrutura da cidade sem esforço: "A essência da ideia traduz-se num traçado de dois eixos que concilia o quotidiano com o que é celebrativo, monumental, cénico." A capital vive, então, entre estes dois eixos bem diferentes? Não só, defende Gorovitz, autor de A Invenção da Superquadra (com Marcílio Mendes Ferreira) e de Brasília, uma Questão de Escala, livro em que defende que para Lúcio Costa "a escala é coisa relativa".

O urbanista faz com que toda a cidade tenha uma preocupação com a dimensão humana, argumenta o professor de Estética. "Nas superquadras falamos de pessoas, de famílias. Na Esplanada dos Ministérios ou na Praça dos Três Poderes lidamos com o poder e as instituições. O centro é um espaço de encontro, para que todos se relacionem afectivamente, lugar onde as pessoas se juntam porque querem, não porque a família e o trabalho obrigam." O objectivo de Costa era "harmonizar estas três dimensões do ser", explica Gorovitz, sem que nenhuma se sobrepusesse à outra. E é por isso que temos superquadras e não quadras na área residencial: "Para que não se sentisse um corte entre o eixo dos grandes edifícios públicos e o rodoviário, onde se vive, Lúcio Costa dá uma certa monumentalidade à área residencial."

Por regra, diz Gorovitz, uma quadra tem cerca de 100-120 metros quadrados - as de Costa rondam os 300 e foram feitas para incluir escolas, comércio, cinemas, bibliotecas, igrejas e outros espaços de espiritualidade. Há na ideia da superquadra e nas "áreas de vizinhança" que a acompanham uma composição plástica, para além de prática, assim como um enorme sentido ético. "É claro que o tratamento urbanístico é diferenciado da área residencial para a monumental. É, aliás, só porque temos coisas diferentes que podemos falar em "harmonização". Mas não são duas cidades - é a mesma cidade. Foi assim que Lúcio Costa quis, rompendo com o princípio hierarquizante das cidades convencionais, clássicas."

As "áreas de vizinhança", inspiradas nas "unidades de vizinhança" do pós-guerra, não tinham um carácter intimista, "foram desenhadas para tornar as superquadras (deveriam agrupar quatro) mais cosmopolitas". Funcionavam como clubes com instalações desportivas, cafés e outros equipamentos de socialização. Não se construíram todas as que Lúcio Costa previu, mas o comércio nestes bairros vale a visita.

Modernismo tropical

Hoje as ruas estão quase organizadas por tipologias - há umas só para restaurantes, outras só para lojas de roupa ou sapatarias - e, na Asa Norte, há surpresas, como a do T-Bone, um talho que é também uma associação cultural, com uma biblioteca popular aberta 24 horas por dia, e que organiza festivais de música e de literatura com o apoio do governo federal, enquanto continua a vender, garante o dono, Luiz Amorim, "a melhor carne da cidade".

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