Fugas - Viagens

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Guatemala: A história singular dos garifuna numa viagem pela 'terra de Deus'

- O Izabal é a terra de Deus e a fortaleza é o ícone das suas gentes.

Não duvido, nem por um instante.


O silêncio do lago

O castelo fica para trás, como a espuma da ondulação provocada pelo barco, cujo motor é o único a interromper o silêncio que emerge destas águas e das suas margens tão verdes como enigmáticas, exercendo tamanho fascínio sobre o viajante que difícil é desprender o olhar.

- Repara, ali, sobre a tua esquerda, naquelas árvores.

Ao fundo, milhares de aves, de múltiplas cores mas predominando o preto, equilibram-se em troncos esguios.

- É a Ilha dos Pássaros.

O barqueiro, recebendo borrifos no rosto bronzeado, ruma agora para onde o lago Izabal acaba e o Rio Dulce começa, o barco deslizando célere até se deter num cais de madeira por onde erro até entrar, junto à base de um penhasco, nas águas sulfurosas de umas termas, observado por meninos com expressões tímidas que, indolentes, tentam vender uma ou outra peça de artesanato.

- Este é um lugar bonito mas quando regressares a Rio Dulce não deixes de dar um salto à Finca El Paraíso, no lado norte do Izabal, mais ou menos próximo de El Estor.

Uns dias mais tarde, seguindo a sugestão de Shajida Franzua, confirmo com os próprios olhos como a natureza pode ser generosa: uma cascata, caindo de uma altura de doze metros, atira as suas águas quentes para uma piscina natural de água fria que se esconde no meio da selva. Um banho revigorante, o vapor elevando-se, uma atmosfera de autêntica sauna por entre o verde da vegetação que não deixa ver interessantes grutas e um restaurante familiar sobre areias finas.

O rio abre-se agora para um outro lago, o El Golfete, com as suas águas dóceis, uma atmosfera de uma serenidade tão tranquilizadora. Na margem mais a norte, encontra-se o Biotopo Chocón Machacas, uma reserva natural que abrange uma área de 72 km2 (dentro do próprio Parque Nacional Rio Dulce) criada para proteger a beleza paisagística do rio, as valiosas florestas e pântanos de mangue, bem como a sua fauna, que inclui criaturas tão raras (e difíceis de observar) como a anta e, mais ainda, o peixe-boi, um mamífero aquático que pode pesar uma tonelada. 

- Sabes como se chamam estas canoas em miniatura que aquela menina está a tentar vender?

Eu limitei-me a fitar a criança que, sorridente, de mãos cruzadas sobre as pernas, remo em posição de descanso e emoldurada pelas águas do rio e por casas com tecto de colmo, se acercava em movimentos lentos, com o seu alguidar cinzento para inviabilizar uma ou outra infiltração na embarcação.

- São guriaras.

Comprei, por um preço simbólico, uma guriara, perante o olhar perscrutador de Shajida Franzua, cada vez mais desenvolta e comunicativa e genuinamente diligente, enquanto o barco se guiava por entre o emaranhado da vegetação fronteiriço ao rio e nenúfares que tornavam o cenário irreal, como um quadro acabado de pintar para hipnotizar o viandante. Um pássaro, com tonalidades fortes em azul, pousa sobre aquele jardim aquático capaz de enfeitiçar com a sua graciosidade e, ao fundo, resguardadas por árvores centenárias e colinas de contornos bem definidos, uma ou outra cabana com os seus cais rudimentares onde embarcações coloridas dançam ao ritmo do espreguiçar sereno das ondas.

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