Fugas - Viagens

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Guatemala: A história singular dos garifuna numa viagem pela 'terra de Deus'


A vida é uma festa

- Dîsi é dez.

Ao fundo, depois de avistar as águas do rio Tatin, sobre a minha esquerda, vislumbro um conjunto de casas.

- É Livingston.

A rua sobe íngreme, deixando ver de ambos os lados casas pintadas em tons garridos. Num enorme cartaz pode ler-se: Yo soy amigo del turista. Shijada Franzua, sempre com o seu sorriso franco, potenciou ao máximo esse lema e dela me despeço com afecto.

Ao início da tarde, volto a entrar num barco e os meus olhos não se demoram a observar um golfinho executando elegantes movimentos junto a uma embarcação que segue a escassos metros de distância, juncando as águas da baía de Amatique. Embrenho-me, solitário, pela beleza infinita de Siete Altares, com as suas múltiplas cascatas e piscinas naturais, escuto um ou outro queixume de um pássaro, o sol dardejando por entre a folhagem e, ainda com umas horas pela frente até o disco laranja pousar no horizonte, estendo-me na Playa Branca, com as suas areias finas e as suas palmeiras, mais uma partícula desta terra de Deus.

- Quieres jugar al fútbol?

Aceito o convite de Nelgo, que vive com a família na Playa Blanca, e com ele faço equipa, contra Marvin e Ronaldo, a frágil bola de plástico rolando sobre a areia, as ondas morrendo num suave murmúrio na praia. Quando, finalmente, o crepúsculo se anuncia, já em Livingston, caminho por entre as casas dos garifuna, detenho-me para uma troca de palavras com crianças afáveis e, logo que a noite cai, vou ao encontro dos sons festivos, da música ecoando nos meus ouvidos. Entro na Cantina El Puente, vejo e escuto como rufam os tambores, como os garifuna dançam sem alguma vez levantarem os pés e aceito o convite de gente que não se cansa de sorrir para beber uma Gallo.     

A noite avança cheia de pressa quando decido beber uma última cerveja. Homem e mulher, sentados na mesma esplanada, escutando passos rápidos ou sons musicais que se cruzam como sinos pouco sintonizados, teimam numa discussão tão viva como deve ser uma fogueira numa noite invernosa. O céu enche-se de estrelas, sem brilho, a lua esconde-se, ele tem uma mortalha e um pouco de tabaco na mão.

- Convidaste-me para vir de férias, até Livingston, o paraíso prometido. Só se for para ti. Acho que a sonoridade do nome te está a perturbar. Era de Livingston que falavas ou de Living Stoned? Parece que não tens mais nada para fazer na vida!

Não me sentia no direito, e muito menos na obrigação, de ouvir o final. Levantei-me quando escutei as últimas palavras da senhora com uma expressão furiosa. Os lençóis estavam limpos, respiravam asseio, da janela do meu quarto via as mesmas estrelas, escutava a canção do mar mas o sono não entrava nem pela mais pequena fresta. Já não acreditava na história dos carneiros mas pus-me a contar, pausadamente, com suaves hesitações:

aban,biama,ürüwa,gádürü,seingü,sisi,sedü,widü,nefu e dîsi.

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Informações

Quando ir

Não se pode falar de uma altura má para visitar a Guatemala mas a época das chuvas, entre meados de Maio e finais de Outubro – no Norte e na parte ocidental estende-se até Dezembro -, pode tornar penosa a circulação em algumas estradas não pavimentadas. Isto não significa que chova durante todo o dia mas poucos são aqueles, neste período, em que não ocorrem aguaceiros. O Verão, por vezes com temperaturas muito elevadas e altos índices de humidade, vai de Novembro a Abril, altura do ano em que o país regista a maior afluência de turistas (no Natal e na Páscoa, quando uma larga percentagem de guatemaltecos goza as suas férias, é fundamental reservar hotéis com antecedência). Mas entre Junho e Agosto os menos prevenidos podem também encontrar dificuldades em termos de alojamento, tantos são os norte-americanos que procuram a Guatemala para uns dias de descanso a preços muito convidativos.

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