Fugas - Viagens

  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha
  • Daniel Rocha

Continuação: página 2 de 9

O Príncipe é na terra e no mar, mas o progresso vem da lua

O homem da lua

O céu continua tonitruante, uma pausa climática ideal para contar uma história enquanto não volta o sol.

Chegámos ao Príncipe do céu, forma mais segura de, depois de apenas seis horas de viagem directa de Lisboa, pisar este pedaço de terra e sorrisos (o barco não nos foi recomendado por ser pouco seguro e muito, muito demorado). Há cerca de dez anos, os destinos da ilha também foram decididos no céu. Era uma vez o “homem da lua”, como lhe chamam os principianos, o sul-africano Mark Shuttleworth, que aos 26 anos ficou milionário ao vender à VeriSign a sua empresa de certificação digital e segurança web. Menos de um ano depois de ter feito o negócio da sua vida, fundou a HBD, sigla para a mui romântica frase “here be dragons”, evocativa da exploração de territórios desconhecidos, e, como qualquer pessoa faria, marcou uma viagem. A dele foi ir ali num instantinho ao espaço.

Em 2002, tornou-se o primeiro africano na estação espacial internacional, conversou de lá com Nelson Mandela e pagou cerca de 20 milhões de euros pela aventura. Terá sido lá — reza a lenda, que Shuttleworth dá muito poucas entrevistas — que constatou que o planeta está demasiado marcado pelos erros dos seres humanos e que a HBD, uma incubadora de empresas e capital de risco, podia intervir numa pequena ilha chamada Príncipe. Que fica a meio caminho entre a sua África do Sul e a ilha de Man, no Reino Unido, onde reside, e cuja população pouco numerosa e modo de vida a salvaguardou de estragos ambientais de monta. Hoje é identificado sobretudo com o Ubuntu, o sistema operativo Linux baseado em código livre, mas em São Tomé e Príncipe o seu nome anda na boca de todos, do avião que nos devolve a Lisboa à pequena casa de Joaquim Pina, onde o artesão trabalha no varandim junto à estrada.

Também ele, que desenha rostos e animais na madeira aqui em Pincatê, a caminho da Roça de São Joaquim, nos fala do “homem da lua”. “Sou de família pobre, classe proletária”, sorri enquanto a faca golpeia a madeira. Lembra-se então de Shuttleworth, que até o foi visitar e que acabou por levar algumas peças para o seu resort na ponta norte da ilha, o Bom Bom. “É muito, muito simples, até estava assim”, diz, apontando para o fotógrafo da Fugas, “de calção”.

Talvez Joaquim Pina esperasse um Sr. Monopólio, monóculo grisalho, roupas e bigode empertigado, e não um homem de 40 anos que, uma vez por ano, vai ao Príncipe ver como estão os inúmeros projectos em curso e exasperar-se em busca de uma boa ligação à Internet. Um dos sítios onde ela existe mais frequentemente e onde algumas das peculiaridades da ilha são ultrapassadas é exactamente o seu Bom Bom Island Resort. Que é um pequeno pedaço de paraíso, não há volta a dar. A condizer com a ilha e suas gentes.

Duas praias idílicas vazias de gente e sons que não os que ali pertencem e um ilhéu na ponta onde as duas se encontram. É o Bom Bom que dá nome ao empreendimento e onde agora mora o bar e restaurante do resort, que só é acessível por uma ponte de madeira. De noite só se vêem estrelas e velas a tremeluzir — caminho suficiente para pensarmos, na era pós-reality shows, que seria uma desgraça que votassem para nos expulsar da ilha. Há duas dezenas de bungalows devidamente espaçados e com chuveiros exteriores, água purificada em garrafas de vidro ou de alumínio (eliminar o plástico numa ilha que importa todos os seus refrigerantes e que tem um problema de distribuição de água potável e afins é toda uma causa para a HBD), luz eléctrica 24 horas, em contraste com o resto da ilha que, funcionando a gerador, não tem electricidade das 24h às 6h. O kit de sobrevivência no primeiro e único hotel em África certificado como Biosphere Responsible Tourism, além de roupa de banho e leitura abundante, é dado à chegada: chave, lanterna recarregável sem pilhas e um apito caso seja preciso algo quando o sol se põe e o silêncio se instala. Não há pulseiras para stocks inesgotáveis de piña colada de pacote, não há animação forçada na piscina e a única música ambiente é dada pela espectacular fauna, dos guarda-rios azuis aos papagaios como a mascote Chaplin, passando pelos pequenos macacos que saltam, à saída do resort, para pontos mais discretos da floresta.

--%>