Fugas - Viagens

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O Príncipe é na terra e no mar, mas o progresso vem da lua

Aqui, como em tantos países em vias de desenvolvimento brindados pela natureza por jóias turísticas do calibre das do Príncipe, o entusiasmo de quem planeia com um olho na sustentabilidade e outro na responsabilidade social quase abafa o cepticismo, que existe pontualmente, de quem teme alguma segregação entre os principianos e essa espécie genérica que são os “turistas” na sequência deste desenvolvimento da ilha.

Viajantes, não turistas

E o facto é que, se pudermos ser filosófos de bolso por uns segundos, neste momento o Príncipe é mais para viajantes e menos para turistas. Eles não se queixarão da ausência de souvenirs e de ementas plastificadas com bandeiras de várias nacionalidades, esses niveladores internacionais que parecem portos seguros mas que muitas vezes bloqueiam o sentido de aventura. E nada como a aventura de comer o que vem para a mesa sem se ter feito um pedido no restaurante de Rosita, junto ao antigo quartel da GNR durante o período colonial e que agora, no centro de Santo António, é ocupado pela rádio regional. Reaberto em 2013 depois de uma experiência falhada anos antes, o seu restaurante sobrevive porque há mais gente no Príncipe, confirma a cozinheira. Na sala com flores sempre frescas e panos africanos a decorar, toda a família ajuda a trazer banana-pão, banana-prata, matabala, peixe vermelho, arroz ou um caldo tão misterioso quanto saboroso de galinha e ervas que nunca conseguiríamos resumir em palavras.

Também o senhor Leandro, lá no cimo da sua colina escorregadia em dia de chuva tropical, faz mais negócio graças à presença dos “dragões do Príncipe”, como os descreve Luís Cruz, brincando com o nome da empresa de Shuttleworth. Cesteiro, Leandro faz também candeeiros e outras maravilhas com ramas que ele próprio, na casa dos 80 anos, vai buscar ao cimo das palmeiras. É vizinho da Roça Paciência, onde Manu e Francesca trabalham uma pequena escola de pedreiros e um laboratório de produtos naturais locais. Estamos mais uma vez nesse espaço desconfortável e confortavelmente reconhecível que é um terreiro, centro de uma roça em que sentimos familiaridade por ser uma edificação “à portuguesa”, mas que mete senzalas e secadores, história e carga de escravatura. Mas, agora, também é uma história de caras e aromas novos no Príncipe.

Manu, enérgico e entusiasmado, veio de Miranda do Douro para o Príncipe e trabalha nesta roça que no futuro será também ela hotel. Da mesma forma que rejeita com ironia brincalhona o romantismo dos visitantes que cantam a beleza do mato cerrado, da chuva quente e da humidade elástica, teme o lado negro do progresso e esse bicho imprevisível que é o homem. Na ilha dos 30 graus e 70% ou mais de humidade, os ciclos das estações do ano são substituídos pelas suspensões diárias de electricidade. O seu sotaque, já principiano, é o dos erres rolados, todo um amor pelo Príncipe. “É quase sussurrado, é um beijo no ouvido.”

Dentro da casa principal, a cozinha da italiana Francesca Orlandi tem saquinhos, cestas, caixas e frascos. Dedica-se à saborosa tarefa de incentivar os principianos a ultrapassar a fronteira da riqueza do que simplesmente brota da terra para explorar territórios de novas combinações, novos produtos num espaço que, “mais do que uma antiga estrutura colonial, é uma roça viva”.

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