Fugas - Viagens

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O Príncipe é na terra e no mar, mas o progresso vem da lua

Um desses figurinos caminha pela praia Burra quando o sol se começava a inclinar sobre o mar depois de provarmos os ananases mais doces do planeta e de roermos polpa de coco, tudo directamente da árvore. Chegávamos à Burra, onde se lava a roupa no telheiro comunitário e onde os patos e as galinhas correm enquanto se cozinha o jantar. Há latrinas, não saneamento básico, e à sombra, junto ao mar, Chico está alheado dos planos que irão mudar a sua vizinhança. Ali vivem cerca de 200 pessoas, entre as quais muitas crianças, engenhosas, que fazem de duas laranjas, um graveto, linha de pesca e uma garrafa de óleo velha um carrinho disputado por todos. Chico está de roda do seu motor novo, aplicado na velha piroga. Amigos e família arranjam as redes, preparando-se para mais uma saída para a pesca. Todos nos perguntam se gostamos da sua ilha, orgulhosos. “Vem muito mais gente agora, mais turista.”

E virão mais, segundo o empresário holandês que inaugurou um hotel na antiga roça Belo Monte, junto ao promontório que dá acesso à perfeitinha praia Banana, e que prevê investir dez milhões de dólares para instalar chalés na praia Burra — e, depois, construir ainda villas para timesharing noutra zona do Príncipe. Tal como para os habitantes da praia Burra, na praia Sundy as coisas estão prestes a mudar. Ali vai nascer um espaço de glamping, campismo glamour em que 15 tendas especiais vão erguer-se num futuro resort que se quer que seja o primeiro carbono zero (sem pegada ambiental, quase sem poluentes) de África e onde as estrelas se vejam de tal forma desimpedidas de iluminação artificial que estejam ao nível de integrar a reserva Dark Sky da UNESCO. Para tudo isso, 14 famílias serão realojadas — tal como as que, por causa da extensão da pista do aeroporto, vão conhecer casas novas, de alvenaria e não de madeira como as que estão habituadas, e mais juntas entre si ao invés dos jardins de flores e bananeiras com que talham os seus quinhões de terra no paraíso.

As mudanças na Sundy e no Aeroporto foram dialogadas ao longo de largos meses e os papéis assinados para que a propriedade fique garantida para estas famílias, dizem-nos os responsáveis da HBD. As gentes da Sundy vão continuar a poder pescar nas suas águas de sempre, mas com estrangeiros, e obtiveram em troca do seu pedacinho de paraíso barcos, redes, equipamento de pesca, motores e casas que ficam mais próximas das escolas e hospitais. A bióloga Estrela Matilde, questionada sobre os prós e contras ambientais do progresso que traz barcos a motor e realojamentos, refere que todos os projectos da HBD “têm de garantir a sustentabilidade e a responsabilidade social”, frisando que o isolamento sanitário destas comunidades é pasto para “contaminações”, vendo vantagens nas mudanças em curso.

Há uma janela de tempo estreita, entre meses e poucos anos, para ver alguns destes pedaços de litoral mudar — saem pescadores, entram viajantes. O Governo regional acredita no turismo como potencial de desenvolvimento económico numa ilha de desemprego, poucas aspirações e muita calmaria. “Leve leve”, como se diz por aqui, na praia Abade ou na praia Campanha, por exemplo, não há planos de mexer com a vida de pescadores, rapazes e raparigas, crianças, gatos e quiosques de venda de bebidas. Toda a zona sul, de mata ainda mais densa e classificada como zona ecológica, é ainda vista como remota e por isso mesmo também não está nos planos conhecidos para o turismo.

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