Fugas - Viagens

  • Barcelona com vista Gaudí
    Barcelona com vista Gaudí Rui Gaudêncio
  • O Arco do Triunfo
    O Arco do Triunfo Rui Gaudêncio
  • Gustau Nacarino/Reuters
  • O Hospital de Sant Pau, o maior recinto modernista do mundo
    O Hospital de Sant Pau, o maior recinto modernista do mundo Robert Ramos/Fundación Privada Hospital de Sant Pau
  • Os sinais modernistas de Barcelona são um dos seus maiores cartões de visita
    Os sinais modernistas de Barcelona são um dos seus maiores cartões de visita Adriano Miranda
  • Agora há um grandee mural-beijo para celebrar a liberdade. E destinado a muitas fotos dos turistas
    Agora há um grandee mural-beijo para celebrar a liberdade. E destinado a muitas fotos dos turistas DR
  • Por mais voltas que se dêem, as Ramblas serão sempre passagem obrigatória na cidade
    Por mais voltas que se dêem, as Ramblas serão sempre passagem obrigatória na cidade Rui Gaudêncio
  • Paseig de Gràcia
    Paseig de Gràcia Rui Gaudêncio
  • Uma das paragens obrigatórias dos turistas: o mui concorrido mercado La Boquería
    Uma das paragens obrigatórias dos turistas: o mui concorrido mercado La Boquería Rui Gaudêncio
  • O Born (à esquerda) tornouse um dos bairros da moda há poucos anos. O mercado renovado vai ser um grande centro cultural e de animação
    O Born (à esquerda) tornouse um dos bairros da moda há poucos anos. O mercado renovado vai ser um grande centro cultural e de animação Rui Gaudêncio
  • A bandeira catalã impõe-se por todo o lado
    A bandeira catalã impõe-se por todo o lado Rui Gaudêncio

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Em Barcelona, a liberdade anda nas bocas do mundo

A boémia continua a ser um traço marcante do Raval, onde se vai ravalear, que durante anos foi associado ao lado mais obscuro de Barcelona, com prostituição e drogas. Alvo de especial atenção das autoridades, aqui foram criados o MACBA, o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, por exemplo, e, mais recentemente, a Filmoteca da Catalunha, por estes dias acompanhados por uma “biblioteca sem livros”: na praça, três estruturas em forma de grandes guarda-sóis com a particularidade de terem o “pano” feito de livros abertos dentro de plásticos. Para a autora, a arquitecta indiana Anupama Kundoo, “o conhecimento levará ao progresso e à liberdade” — Liberdade é o nome da sua instalação.

Foi tentada, a gentrificação, contudo nunca foi totalmente conseguida e é isso que empresta ao Raval a sua aura única, fervilhante, não tão “limpa” e ordenada como no Born. Neste último, conta-nos Pep Sanchez, barcelonês, havia menos habitantes, muitos já tinham saído, pelo que foi mais fácil a transformação; aqui no Raval, há sobrepopulação.

Hipsters e elBullis

Sempre caminhando não damos conta quando passamos para o bairro de Sant Antoni — só quando passamos pela Ronda homónima percebemos a transição. A rua está ocupada por estruturas pré-fabricadas que albergam os comerciantes do famoso mercado Sant Antoni enquanto este, histórico, do século XIX, está a ser recuperado. Mais um passo na revitalização deste bairro que, juntamente com o vizinho Poble Sec, já aos pés de Montjuic, embora longe das manifestações de rua do Tricentenário, se estão a tornar nos sítios da moda em Barcelona, destinos indispensáveis para os brunches de fim-de-semana que estão a entrar nos hábitos da cidade, e para os aperitivos, com o vermute a correr em força.

Já não estamos na cidade velha (embora, em Barcelona, seja quase tudo perto, ao alcance de caminhadas que nos entretêm de tal forma que não sentimos o tempo a passar e a distância a pesar) e, por enquanto pelo menos, das grandes aglomerações turísticas. Nestes bairros residenciais de classe média, aparentemente anódinos, uma série de bares e restaurantes foram os pioneiros de uma transformação em curso, que tem atraído novos negócios que convivem com os de sempre, como galerias de arte, de mobiliário de design, de roupa de autor. Sobretudo em Sant Antoni, que já era conhecido pelo mercado, o maior de Barcelona — devemos dizer mercados, porque o mercado dominical era (é, temporariamente na rua Urgell) um mundo à parte: livros, música, cromos, selos…  — e agora parece ter sido descoberto por hipsters que se deleitam nas esplanadas de pastelarias e delicatessens com os cães aos pés.

Poble Sec, atravessado pela Avenida Paralel, que liga a Praça de Espanha ao World Trade Center da cidade, no porto, agarra pelos estômagos. Foi aqui que os irmãos Adrià abriram um restaurante de tapas Tickets, um “elBulli de bairro”, cujo chef é Ferran, e foi por aqui que Albert Adrià decidiu instalar o que chamou de “alta gastronomia de bairro” em várias versões — desde a cozinha nikkei (fusão de cozinha japonesa e peruana) do Pakta à alta cozinha pura do 41º (um “miniBulli”), passando pela vermutería Bodega 1900 e à espera, agora em Setembro, da cozinha mexicana no Hoja Santa e da “cantina casual” Niño Viejo. E não estão sós, claro, nesta tomada de Poble Sec que, alta cozinha à parte, continua a oferecer muitos locais a preços “locais” – e isto significa dos mais baratos em Barcelona.

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