Paulo Duarte, director de hotel
Paulo passeia-se pelo "seu" hotel design de quatro estrelas sem grandes formalidades de director. Recebe-nos de calças de ganga, esquece a gravata, não esquece o sorriso. "Da mesma forma que estou aqui a falar consigo, estou a falar com um cliente", diz-nos, porque, para este director da nova geração, o importante "é sermos nós próprios, autênticos". "Afinal, estamos a propor uma experiência autêntica" de Lisboa. "Não teria lógica termos um conceito de informalidade e eu aparecer todo engravatado."
Estamos sentados na sala de estar do Memmo Alfama, o primeiro boutique hotel de luxo do bairro e que acaba até de ser considerado pela revista Wallpaper um dos melhores novos hotéis do mundo. Tal como todo o hotel, a sala é feita de detalhes que realçam tanto as vistas de tirar o fôlego para rio e bairro como a familiaridade e a proximidade com o hóspede. "O conceito deste hotel é uma ‘casa grande', com muita proximidade com os clientes", resume.
Na brincadeira, chama-se a si próprio o "anfitrião-mor". Mas sublinha: "[Aqui] a cultura é mais do que ser só eu um anfitrião: todos nós que trabalhamos no hotel somos anfitriões." "Quase que agarramos o conceito de informalidade dos hostels, que o fazem muito bem, e aplicamos a um hotel. Mas é um ‘à vontade', que não é um ‘à vontadinha'".
Ao longo do dia, Paulo gosta de "circular pelo hotel". "Além de fazer parte do trabalho para controlar a operação, não me inibo de apresentar-me às pessoas, oferecer uma bebida, etc.". A dimensão do hotel (42 quartos) permite essa relação, para a qual o responsável, de 43 anos, advoga um equilíbrio, que passa por nunca impor nem importunar. "Isto tudo requer uma coisa, que não é fácil e é um desafio: bom senso."
A hotelaria não era a sua actividade - formado em gestão, é especialista em finanças ("o que dá bastante jeito"). Entre estar ligado à abertura de vários restaurantes - e ter "desenhado um pouco da parte hoteleira do que é a Academia do Sporting" -, foi "desafiado" por um amigo, Rodrigo Machado, o mentor do projecto Memmo, a dedicar-se a projectos "improváveis", como um hotel em Alcochete ou o que foi o primeiro Memmo, o quatro estrelas Baleeira em Sagres.
Desse "desafio" veio para este agora, um hotel entre design e luxo, nascido da reformulação de velhos prédios numa travessa escura à Sé. Veio do "fim do mundo" para o "fim do beco". Aliás, para que os seus hóspedes (particularmente casais, 95% estrangeiros) se sintam "em casa" nos "labirintos" de Alfama, têm até uma arma "quase" secreta: oferecem gratuitamente aos clientes uma visita à zona, o que permite fazer "recomendações e dar dicas", além de conhecer melhor o que cada hóspede quer. "Se isto é uma casa e nós somos todos anfitriões, é a nossa forma de dizer ‘então vamos lá dar uma voltinha ao bairro'. Os clientes adoram." Sinal dessa relação especial é uma vitrine que decora uma parede de entrada: está cheia de desenhos da cidade e do hotel e textos criativos deixados pelos clientes. "Um hotel adorável com pessoas adoráveis e prestáveis", diz um. Melhor propaganda não há.