“Naquela altura o nadador-salvador era o banheiro que arrumava os toldos, estávamos aí a trabalhar e quando acontecia alguma coisa, chamavam e nós lá íamos”, recorda-se. Havia mais liberdade, tempo para “os mortais, os mergulhos, o futebol, o bronze”. E as namoradas estrangeiras. “Era tudo bandidagem e eu também era”, ri-se. “Cada nadador-salvador tinha duas, púnhamos uma no autocarro e estava outra a chegar.” “Elas vinham cá para isso também e no meu tempo se arranjasses uma namorada portuguesa era logo muito sério, para casar”, vai explicando, em jeito de desculpa. Da namorada norueguesa teve uma filha. “Naquela altura havia campeonatos de dança à John Travolta e Saturday Night Fever nas discotecas, ela fazia fazia parte do júri e eu fui tentar ‘engraxá-la’ e foi no que deu, por acaso até ganhei [o concurso]”, ri-se. Tinha 20 anos e faziam seis meses cá, seis meses lá. “Ela também trabalhava cá no Verão e depois no Inverno íamos de férias para a Noruega, porque lá o subsídio de desemprego é melhor e dava para viver sem fazer nada”, graceja. Mas quando regressava a Portimão, “olhava à volta e só pensava que isto era mesmo bonito”. “Gostava cada vez mais disto e já não me apetecia voltar para lá.”
Hoje em dia, os primeiros três meses de Inverno são para fazer pequenas reparações no material e visitar os amigos que não vê durante todo o Verão, apesar de “estarem ali a cinco minutos”. “Às vezes chego aqui às 6h30 e saio às 20h45. São dias muito grandes e o cansaço também.” Nos restantes meses de frio, dá formação aos novos nadadores-salvadores. Em 2001 fundou (e continua a presidir) a Associação dos Nadadores-salvadores do Barlavento Algarvio e desde 2010 é quem coordena o Plano Integrado de Salvamento na Praia da Rocha. “Já faço mais o trabalho de terra do que a parte aquática”, explica. Em 36 anos de profissão, perdeu a conta aos salvamentos que fez e aos sustos que apanhou. “Por três vezes ia lá ficando também”, recorda. Nunca pensou desistir. “Acho que nasci mesmo para salvar, sei lá, está o bichinho cá dentro”. “Eles fazem bem o trabalho, mas eu vou logo a correr, ver se é preciso alguma coisa”, confessa. “Acho que já chega, mas isto fica sempre, não consigo.”
(Mara Gonçalves)
Maria Helena Ribeiro, proprietária da loja de artesanato
"Tudo o que tem galos" é um chamariz para os clientes do Xafariz Artesanato, resume Maria Helena Ribeiro. Di-lo com alguma ironia, mas consciente de que os galos - de Barcelos, bem entendido - nas suas várias aparições alimentam uma parte considerável da loja que abriu há 25 anos em plena Rua Mouzinho da Silveira, meio caminho andado até à Ribeira do Porto. Os turistas estrangeiros, parte de leão da sua clientela, não lhes resistem, sobretudo os brasileiros. "Não que haja muita diferença", reflecte, "brasileiro, francês, espanhol... procuram sempre dentro do mesmo". Galos, portanto, de preferência muito baratos - seja em ímanes, cerâmica, lenços, atoalhados -, o que até obrigou Maria Helena a abrir espaço na sua loja para produtos que não de artesanato português, a sua raiz (atente-se no cartão de apresentação: "artigos regionais, bordados, cerâmica, novidades, postais, filigranas). E o seu orgulho. "Vesti muito rancho folclórico", conta, "vendi muitas saias, blusas, coletes tradicionais."