Ainda hoje, são os têxteis que ocupam grande parte do interior da loja, quadrada, forrada de estantes envidraçadas; o exterior é mais ecléctico: a porta é território têxtil (t-shirts, lenços...), porém as duas montras que a enquadram são um sortido ao estilo caverna-de-ali-babá em edição portuguesa, tradicional e popular. Mas nem sempre artesanal, volta a avisar Maria Helena. Afinal, a concorrência é implacável e as lojas de souvenirs de indianos, com a sua oferta invariavelmente (mais) barata, desvia muita clientela. "As pessoas querem barato", explica, "não importa se é feito em Portugal se na China. Eu nem nos rótulos made in EU me fio"... Há uma certa desilusão na voz mas pragmatismo na acção: se não os podes vencer, junta-te a eles. Ou seja, entre os galos de cerâmica há os de resina, igual para os ímanes - "temos até de azulejo mas os que vendem mais são os de 2€, chineses". Mesmo os lenços, que há 25 anos lhe deram a ganhar muito dinheiro, e que ela trata com carinho especial - está com pressa porque, precisamente, vai sair em breve para levar uma série deles a uma costureira que lhes coloca franjas manualmente: "compro eu a linha, o fio, tudo igual" -, têm no próprio Xafariz concorrência estrangeira (e podem ser três vezes mais baratos).
Está tudo devidamente discriminado, o nacional e o estrangeiro. O que não está, Maria Helena encarrega-se de explicar: por exemplo, os barcos rabelos que vemos na montra são em cortiça e madeira feitos por um artesão portuense; as peças de cerâmica que lhes fazem companhia são do Alentejo, Aveiro e Vila Nova de Gaia. E não se pense que os produtos portugueses-tradicionais-e-artesanais estão condenados ao desaparecimento. Na verdade, até estão a sair melhor do que antes porque, simplesmente, há mais turistas no Porto - trazidos pelas companhias de aviação low cost, sublinha Maria Helena. Entre estes, cresce, proporcionalmente, a minoria que "procura o mais original", que até pode ganhar com a abundante comparação com os produtos feitos em série.
De qualquer forma, para cobrir todas as possibilidades, Maria Helena até estendeu o seu negócio à Ribeira, onde tem uma loja concessionada com preços mais baixos. "Somos obrigados." Obrigados a estar na Ribeira por ser o local mais incontornável dos périplos turísticos - já perdeu a conta às vezes que lhe entram pela loja a perguntar onde é a Ribeira: "Sempre em frente até ver o rio"; obrigados a colocar os produtos mais baratos para competirem com as bancas da Ribeira, ("fizeram daquilo uma feira"), que não têm encargos com "rendas, ordenados, impostos". Não é fácil, mas Maria Helena já anda nisto há 45 anos, desde os seus 20, quando começou ao balcão de uma loja semelhante em Cedofeita. Não vai desistir. Vai continuar a promover o artesanato português e a dar indicações a quem as pede: "Procuram as igrejas, a Sé, a Igreja de São Francisco, a dos Clérigos, as pontes, as caves...".(Andreia Marques Pereira)