A vida de Luís ficará sempre ligada à cervejaria, para o bem e para o mal. Em 2005, um acidente vitimou um colega e “grande amigo” e deixou Luís “bastante mal” numa cama de hospital. “Foi uma grande perda que eu tive e todos eles, mas felizmente tive a sorte de ter quem cuidasse de mim”, conta, emocionado. “Consegui aos poucos ir recuperando e vir a reintroduzir-me no trabalho desta empresa, com grande apoio da administração e dos colegas, e voltei a exercer aquilo que eu mais gosto: lidar com o público, servi-lo e divertir-me com ele”.
(Mara Gonçalves)
José Viegas, nadador-salvador
Na fotografia mais antiga que alguma vez encontrou sua, José Viegas surge ao colo do pai no restaurante da família na praia da Rocha. Tinha um mês e 25 dias. Hoje tem 54 anos e não houve um Verão que não tenha sido vivido naquele areal de Portimão. “Sempre estive ligado à actividade de apoio balnear, é um negócio de família de muitos anos, sou a quinta geração”, conta. No início eram as barraquinhas de pano, o aluguer de toalhas e de fatos de banho e, mais tarde, o restaurante, que todos os anos tinha de ser montado e desmontado sobre o magro areal que ali existia. Actualmente são 70 chapéus-de sol, toldos e espreguiçadeiras. “Praticamente cresci aqui, vivíamos quatro meses na praia”, recorda-se. Com nove anos já levantava mesas e servia bebidas, mas começou “a ajudar a sério” aos 14 anos, quando o pai o tornou “responsável pelo aluguer das gôndolas”. Quatro anos depois decidiu tirar o curso de nadador-salvador, profissão que concilia até hoje, sendo um dos mais antigos do Algarve no activo.
“Há gente que vem para aqui há 40 anos”, conta. Conhece todas as caras, vão-se cumprimentando ao passar. Algumas famílias vão somando gerações e às vezes “até vêm por turnos”: uma filha, depois a outra, a seguir os pais, os netos. “Tinha um colega nadador-salvador que gostava muito de falar com as pessoas, então no ano seguinte a malta do Norte trazia-lhe sacos de batatas, garrafões de vinho”, ri-se. São quase tantos os laços que foi criando quanto as histórias que tem para contar, mas até as amizades são agora diferentes, queixa-se. “Lembro-me que quando era miúdo e vinha para aqui uma família inglesa fazíamos logo amizade”, recorda. “Convidávamos para irem jantar a nossa casa, com os anos acabavam por ficar a dormir lá e cheguei a ir à Bélgica passar um mês de férias com pessoas que conhecemos aqui.” “Agora posso até ser muito simpático, mas é sempre um cliente que chega”, lamenta.
Ainda se lembra de ali só existirem “20 ou 30 casas e o Grande Hotel da Rocha”. Viu a praia alargar-se vários metros sobre o mar, assistiu à substituição das vivendas pelos bares, lojas, hotéis e prédios que hoje galgam a falésia. Com os anos começaram a chegar mais estrangeiros, sobretudo irlandeses, holandeses e alemães. Os hábitos dos veraneantes mudaram drasticamente: antigamente iam logo ao restaurante reservar a mesa e o almoço, comiam “refeições à séria” e depois “dormiam a sesta nas cadeirinhas, faziam jogos em família”. “Agora vêm, vão a casa comer e depois voltam, só o estrangeiro é que vem passar o dia na praia”, conta. Até a profissão de nadador-salvador vive dias muito diferentes. Quando começou, os cursos ainda eram dados no mar com a água gelada do Inverno, a maioria eram pescadores, pedreiros e “malta sem formação académica”. Hoje têm pelo menos o 12.º ano, muitos deles são licenciados desempregados, falam línguas, há uma aposta forte na prevenção.