É uma quarta-feira, a primeira de Setembro, depois de um Agosto sobrelotado. Esperamos o autocarro Yellow Bus linha laranja (Porto Histórico, do pacote Porto Vintage) no seu ponto número um, mesmo defronte do Centro Português de Fotografia, com vista para um dos ícones turísticos do Porto, a Torre dos Clérigos. Dois norte-americanos são os primeiros a entrar — e os primeiros a sair, ainda antes de o autocarro arrancar: afinal, estão na linha errada, querem ir na roxa (Porto dos Castelos, a outra opção do Porto Vintage), a que vai a Matosinhos; “esta já fizemos ontem”, justificam. Esclarecidos nos horários, ainda perguntam pela “golden church”, a de São Francisco, supõe-se: se seguirem as ruelas sempre para baixo chegam em dez minutos. Um casal português jovem chega para comprar bilhete: “Não têm multibanco? Onde é a caixa mais próxima? Temos tempo de apanhar este autocarro?”; “Não se preocupem, se partirmos antes, passa um em 30 minutos.”
É este o ritmo dos Yellow Bus da linha laranja durante todo o ano. Vítor Rio leva seis anos a conduzir os autocarros da Carristur, os últimos três como chefe de equipa. A Torre dos Clérigos fica para trás, “a nossa Torre Eiffel”, brinca (“não, nunca faço essa comparação, mas era capaz de pegar”), para chegarmos à Avenida dos Aliados (“nessa lógica seriam os nossos Campos Elíseos”), onde a paragem na Praça da Liberdade é, “se calhar, a mais central”. A mais concorrida, portanto, sobretudo para iniciar o passeio, em regime hop on hop off. “Não podemos fazer serviço público de chegar, abrir e fechar portas”, explica Vítor, ainda que a polícia do turismo esteja sempre a rondar. É aqui que a avalanche de perguntas tende a ser maior, é aqui que se vendem mais bilhetes directos.
A quem chega a comprar, e normalmente nos autocarros compra-se o percurso Porto Vintage, é preciso explicar todo o funcionamento do Yellow Bus, os dois dias de validade, os horários; e a quem vem com vouchers para trocar repete-se a história e explicam-se as extensões das várias modalidades — há turistas que não sabem o que está incluído no seu voucher, como a britânica que chega com um voucher Yellow City Cruises, que inclui, além do tradicional Porto Vintage, um cruzeiro “das seis pontes” e uma visita guiada às caves Calém: “Oh, that’s good”. Ainda se faz tempo para esperar pela filha de uma turista brasileira (“está quase a chegar”) e se explica a um casal que este não é o autocarro certo para regressar ao navio cruzeiro que esta manhã aportou em Matosinhos — teria de esperar o da linha roxa, mas o melhor, indica Vítor, é ir ali ao outro lado da praça apanhar um autocarro dos STCP, o 500, que é mais rápido e cujo valor está incluído no passe Porto Vintage.
“Diariamente lidamos com 600, 700 pessoas”, explica Vítor, “é difícil de gerir e chegar ao final do dia com todos satisfeitos”. Mas é o que tenta fazer, sempre com um sorriso e com a ocasional piada, dependendo de com quem está a falar. “Temos de ler bem cada pessoa. Sabe, por exemplo, que os espanhóis são por norma mais relaxados e os brasileiros (35% dos passageiros, com frequência constante ao longo de todo o ano) de extremos, menos tolerantes quando alguma coisa corre mal.” Por exemplo, os atrasos que as obras na cidade, nomeadamente na Avenida da Boavista, podem causar ou algum problema nos auriculares para os áudio-guias (onde o português do Brasil tem direitos de idioma). A sua simpatia constante é também uma moeda de troca: busca alguma tolerância no caso de acontecer algum imprevisto. E é o resultado da sua longa experiência no contacto com os passageiros. Que têm sempre razão. Mesmo quando não a tem.
(Andreia Marques Pereira)