Fugas - Viagens

  • “Somos o primeiro impacto, portanto tentamos recebê-los com um sorriso e não só responder às necessidades que tenham durante o voo. Somos também um pouco o cartão- de-visita de Portugal”. Rita Calado, 31 anos, é assistente de bordo há seis
    “Somos o primeiro impacto, portanto tentamos recebê-los com um sorriso e não só responder às necessidades que tenham durante o voo. Somos também um pouco o cartão- de-visita de Portugal”. Rita Calado, 31 anos, é assistente de bordo há seis Rui Gaudêncio
  • “Os hotéis podem ser mais bonitos, mais feios, mais ou menos informais, mas isto é mesmo sobre a arte de saber receber bem as pessoas”, diz Paulo Duarte, director do Memmo Alfama, em Lisboa
    “Os hotéis podem ser mais bonitos, mais feios, mais ou menos informais, mas isto é mesmo sobre a arte de saber receber bem as pessoas”, diz Paulo Duarte, director do Memmo Alfama, em Lisboa Enric Vives-Rubio
  • “Diariamente lidamos com 600, 700 pessoas. É difícil de gerir e ao fim do dia estarmos todos satisfeitos”, explica Vítor Rio, motorista dos Yellow Bus, no Porto
    “Diariamente lidamos com 600, 700 pessoas. É difícil de gerir e ao fim do dia estarmos todos satisfeitos”, explica Vítor Rio, motorista dos Yellow Bus, no Porto Fernando Veludo/nFactos
  • “Este ano estive com clientes que tinham vindo há seis ou sete anos. Voltaram com amigos
    “Este ano estive com clientes que tinham vindo há seis ou sete anos. Voltaram com amigos". Paulo Cosme, guia-intérprete no Porto Fernando Veludo/nFactos
  • Haverá poucas coisas que dão mais prazer a Luís Monteiro do que ajudar um estrangeiro que o olha atabalhoado com um martelo na mão e uma sapateira na outra
    Haverá poucas coisas que dão mais prazer a Luís Monteiro do que ajudar um estrangeiro que o olha atabalhoado com um martelo na mão e uma sapateira na outra Daniel Rocha
  • “Sempre estive ligado à actividade de apoio balnear, é um negócio de família de muitos anos”, conta José Viegas, nadador-salvador no Algarve
    “Sempre estive ligado à actividade de apoio balnear, é um negócio de família de muitos anos”, conta José Viegas, nadador-salvador no Algarve Vasco Célio/Stills
  • “Tudo o que leva galos” é um chamariz para os clientes do Xafariz Artesanato, a loja de Maria Helena Ribeiro
    “Tudo o que leva galos” é um chamariz para os clientes do Xafariz Artesanato, a loja de Maria Helena Ribeiro Fernando Veludo/nFactos

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Senhoras e senhores, bem-vindos a Portugal

Responsabilidade e orgulho, então, numa actividade que, todavia, não é fácil. A maioria dos guias-intérpretes são freelancers, vivendo à custa de carteiras mais ou menos oscilantes de clientes e com a carga fiscal, de prestações sociais e de seguros que tal acarreta. Além disso, fenómeno mais recente, a profissão convive com a "concorrência" dos chamados free tours. "O que mais nos irrita é a falta de informação, dizem verdadeiras barbaridades sobre a história nacional, e a fuga ao fisco", sublinha Paulo. Afinal, a informação não só deve ser exacta como, defende, deve suscitar reflexão nos ouvintes.

Paulo gosta de, sempre que possível (normalmente quando se expressa nos idiomas nativos dos grupos, para que nada se perda), contar histórias; mas as dele não começam por "Era uma vez", antes convocam os ouvintes para eles próprios viajarem no tempo. "Imaginem que vivem numa altura em que..." é a sua fórmula mais comum - "nem todos sabem identificar o século XVIII ou sabem o que foram os Descobrimentos portugueses", justifica. Com sorte, nos grupos haverá sempre um ou outro que faz perguntas, que se interessa verdadeiramente pelo que está a ver (e a ouvir) - nunca nos grupos de asiáticos, ressalva, "são muito calados".

Com os ingleses, por exemplo, a zona da Ribeira é pródiga em suscitar alguma curiosidade - a começar pelos nomes ingleses das caves de Vinho do Porto - e em provocar "descobertas", como a da mais antiga aliança do mundo, a luso-britânica, à boleia do casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, e quem sabe, levar até à Índia, aos primórdios do raj e do "chá das cinco", dote e herança de Catarina de Bragança.

Na verdade, "o tipo de discurso nunca é o mesmo para toda a gente" e há que ter em conta coisas como as "sensibilidades históricas" de cada nação. Por isso, Paulo pensa que uma parte curiosa da sua profissão é que as pessoas pensem que é monótona. "Nunca é, é sempre diferente." E pode ser bastante recompensadora como quando os clientes voltam. "Este ano estive com clientes que tinham vindo há seis ou sete anos. Voltaram com amigos." 
(Andreia Marques Pereira) 

Vítor Rio, motorista

Vítor Rio é um joker. Tanto está a debitar a fórmula de venda de bilhetes, nas suas diversas variações, em alemão, como está a falar do desemprego em espanhol; dá indicações sobre o itinerário e suas paragens em inglês (com respeito pelas idiossincrasias transatlânticas: para um norte-americano a estação de São Bento é uma train station, para um inglês nunca deixará de ser uma railway station, por exemplo), justifica “atrasos” em francês (o passageiro tem sempre razão, ainda que os seus 40 minutos de espera sejam “impossíveis”), explica o funcionamento dos títulos de transporte em português, seja para o autocarro turístico seja para o ônibus turístico.

É um joker, sim, ao volante de um dos Yellow Bus que percorrem (quase) incessantemente a cidade do Porto, mudando de língua e de atitude ao ritmo de entradas e saídas. É um joker, sim, como têm de ser todos os que estão na sua posição: “A condução, com o tempo, acaba por ser um pouco instintiva. O resto já é sempre diferente. O trato com os clientes, a informação pedida, o controlo do GPS, a venda de bilhetes...”.

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