Rita Calado, assistente de bordo
Para muitos turistas que visitam Portugal pela primeira vez, os assistentes de bordo são os primeiros e últimos portugueses com quem acabam por contactar, contribuindo indirectamente para a imagem que levarão do país. “Somos o primeiro impacto, portanto tentamos recebê-los com um sorriso e não só responder às necessidades que tenham durante o voo. Somos também um pouco o cartão-de-visita de Portugal”, conta Rita Calado, de 31 anos. “Quando chegam [ao avião] não nos conhecem, não sabem como é a cultura portuguesa, portanto fazem logo uma abordagem à nossa maneira de falar, às nossas características físicas”, descreve. “Normalmente acham muita piada à nossa língua, porque é muito diferente das outras e perguntam muitas vezes como é que se diz ‘bom dia’, ‘olá», ‘boa tarde’, ‘obrigada’”.
Rita é assistente de bordo há seis anos. Deixou o emprego em comunicação, área em que se licenciou, para ingressar na TAP. Agradava-lhe o estilo de vida e a falta de rotina, queria conhecer mais do mundo. “Gosto de não ter horários fixos, de não trabalhar com os mesmos colegas todos os dias, de conhecer pessoas novas e comunicar com o público”, enumera. Do contacto com os ouvintes da rádio onde trabalhava passou a interagir com os passageiros. Normalmente não há tempo para longas conversas, mas há sempre uma ou outra história. Uns lembram-se da “menina” com quem já tinham voado, os emigrantes portugueses “gostam muito de contar as recordações que levam para o netinho, o bacalhau, os enchidos que trazem mesmo para a cabine” e para os quais pedem cuidado no manuseamento. Com os estrangeiros, não raras vezes acaba a fazer o papel de guia turística. “Pedem-nos muitas vezes recomendações sobre a cidade onde vamos aterrar”, conta.
Como é natural de Lisboa, está mais confortável a dar dicas sobre a capital, mas os conselhos acabam por ser semelhantes para o resto do país, com um roteiro gastronómico onde não faltam “o bacalhau, o polvo, o nosso marisco e petiscos, o peixe grelhado e até o cozido à portuguesa”. Se perguntarem pelos pastéis de Belém, aproveita e faz “um tour turístico pela zona, que há muitas coisas para conhecer ali”. Se a referência for o vinho do Porto, então aproveita “para recomendar a visita às caves e fazer provas de vinhos”. Depois, conta, nunca faltam as tradicionais visitas ao centro das cidades, às casas de fado e às praias do Algarve e da costa alentejana. “Geralmente até ficam surpreendidos com tanta oferta que nós temos em Portugal”, assegura.
Nos voos de regresso, há sempre quem dê o feedback sobre o país, “quase sempre positivo”. “Somos um país tão pequenino, se calhar para eles as expectativas não são tão grandes como conhecer outras capitais da Europa, por isso Lisboa para eles é a surpresa, é o que eu sinto. [O país deu-lhes] muito mais do que estavam à espera”, defende. A maioria regressa a elogiar a gastronomia, o clima, a simpatia dos portugueses, o vinho. “Dizem sempre que vão repetir para conhecer melhor porque ficaram com água na boca de descobrir um bocadinho mais o nosso país.”
(Mara Gonçalves)