Ele gosta de ali estar, diz que é onde se sente mais em casa e, para mostrar uma das razões pelas quais se sente bem na Potsdamer, leva-nos até à antiga sede do jornal TagesSpiegel, que hoje está ocupada por lojas e galerias. Lukas espreita a loja conceptual de Andreas Murkudis, que está ali instalada. Brinca, dizendo que bem que gostaria de comprar alguma coisa mas não tem dinheiro para isso, e leva-nos depois a uma das galerias de arte do enorme prédio.
“Os meus pais são arquitectos e acho que gosto deste edifício por causa deles. Gosto da sua ligação com a galeria”, diz, enquanto explora o prédio de tectos altos e varandas ocasionais abertas sobre os espaços de exibição.
Lukas gosta de Berlim, mas nota-se que a cidade também o irrita. “Berlim é feita de pequenas aldeias que se uniram numa cidade grande, por isso há tantos centros. E Berlim continua a ser uma aldeia. Gostava que algumas coisas das grandes cidades viessem para cá e pudessem combinar-se com Berlim, mas talvez isso não seja possível”, desabafa, enquanto atravessa ruas cobertas de gruas, que dão forma a novos edifícios de habitação barata – a falta de casas a preços acessíveis é um dos maiores problemas da capital da Alemanha, explica Lukas – e nos dirigimos a uma das novas zonas favoritas do berlinense, o parque urbano de Gleisdreieck, na fronteira dos quarteirões de Kreuzberg e Schöneberg.
Com uma linha de comboio a correr-lhe por cima, o parque inaugurado em 2013 ainda cheira a novo e está recheado de adultos que correm, jovens de bicicleta, crianças que brincam, desportistas em torno de cestos de basquetebol ou artistas que fazem acrobacias. “O parque tem uma atmosfera urbana que não há noutros lugares de Berlim”, diz o estudante para quem a capital alemã é, claramente, demasiado sossegada.
Antes do dia acabar, Lukas ainda nos leva até à Neue Nationalgalerie (a Nova Galeria Nacional), que já fechou, mas cuja estrutura envidraçada também o atrai. “As vidraças não são todas iguais. As maiores são feitas apenas por uma companhia, fora da Alemanha, e a sua substituição é muito cara, pelo que, quando foi preciso substituir algumas, transformaram-nas em duas peças em vez de uma única”, diz.
Lukas aponta, do outro lado, o edifício dourado da Filarmónica de Berlim e lamenta que já não possamos ir visitar um dos espaços que seleccionara para nós – a Hamburger Banhof, antiga estação de comboios transformada em Galeria de Arte Contemporânea. Ele que sonha com uma Berlim mais urbana, mais mexida, mais cheia de novidades, termina o dia junto à Civilist, em Brunnestrasse, no quarteirão de Berlim Mitte, o único local da antiga Berlim Leste no itinerário que traçou.
Lá dentro vende-se roupa e calçado, “coisas que só se encontram aqui”, segundo Lukas, mas nem são tanto os produtos que o cativam. “A loja reflecte um estilo de vida, os donos não se preocupam com o aspecto, organizam eventos, fazem as coisas como querem”, diz. Mais do que um local para ir às compras, explica, a Civilist é um ponto de encontro de amigos que se juntam ali para conviver.