Com 25 anos, Maria já só conheceu Berlim sem um muro a dividi-la, mas, ainda assim, era no Leste que ficava enquanto crescia. Era ao FEZ que ia brincar. “Não íamos para Berlim Oeste porque era muito longe. Demorávamos cerca de uma hora a lá chegar”. Quando acaba de falar estamos junto ao edifício castanho do FEZ. Há crianças a dirigirem-se para o interior, mas descansamos cá fora um pouco, saboreando um dos deliciosos iogurtes gelados com fruta que se vendem ali ao lado.
Depois, espreitamos o FEZ mas não vamos longe. Sem tirar bilhete não se pode passar da entrada nem participar em qualquer uma das actividades que vão arrancando risos e gritinhos de entusiasmo às crianças. “Vinha ao fim-de-semana com os meus pais. Fazia workshops e havia um simulador, que nos permitia experimentar estar num local sem gravidade. Era muito divertido”, diz.
Os olhos de Maria abrem-se e, subitamente, ela diz que há outro sítio que gostaria de nos ter mostrado, se pudesse: o Spreepark. “Está fechado há anos e agora é um sítio abandonado, que já serviu de cenário para filmes, mas que se pode visitar, aos domingos de manhã”.
Maria começa depois a contar a rocambolesca história da família que venceu o concurso de exploração do parque, em 1991. Sem local de estacionamento por perto e com os preços cobrados para entrar a subirem, o parque perdeu público e começou a dar prejuízo. Em 2002, os gestores do parque e os seus funcionários mais próximos embarcaram para Lima, no Peru, levando consigo seis das principais atracções do Spreepark e com a autorização das autoridades alemães, que acreditaram que os equipamentos iriam ser reparados.
A família nunca mais regressou e o parque foi declarado insolvente. Mas a sorte de Norbert Witte, o dono do Spreepark, não foi melhor. Depois de ter falhado a sua tentativa de instalar um parque de diversões em Lima, foi preso, em 2004, e condenado a sete anos de cadeia quando tentava traficar cocaína da América do Sul para a Alemanha, escondida nas peças de um dos divertimentos.
A história de Maria deixa-nos com pena de não termos dado um salto ao Spreepark, mas descobrimos depois que a jovem está desactualizada: em Março deste ano a cidade comprou o parque e, desde então, não houve mais visitas.
Berlim é uma festa
Magnus Hedman está na Boxhagener Platz, na esquina entre Gärtnerstraße e Krossener Straße à hora combinada. Nós chegamos mais cedo, por isso já demos à volta à feira de velharias que ele nos queria mostrar. Há ali um pouco de tudo, desde uma banheira de hidromassagem a livros e roupa, bugigangas e cadeiras. “Há muito lixo, mas também se encontram peças de mobiliário fantásticas”, diz o jovem alemão, filho de suecos, de curtos caracóis revoltos e um sorriso permanente colado à cara.
A feira repete-se todos os domingos de manhã e os vendedores são quase sempre os mesmos, pelo que Magnus, que partilha uma casa com amigos ali perto, já os conhece bem. Natural de Freiburg, filho de suecos, está em Berlim há três anos, mas, pelo menos enquanto lá está (e ainda quer ficar por ali por uns tempos), já se sente berlinense.