Lukas Olfe tem um casaco comprido, que se agita, como a capa de um super-herói, enquanto atravessa as ruas de Berlim a passos largos. O berlinense, de 25 anos, está habituado a caminhar pela sua cidade. Aliás, tal como Magnus e Maria, Lukas não anda de carro.
Para os três alemães, os transportes públicos são a forma correcta de atravessar a cidade, de chegar a todo o lado. Na antiga Berlim Leste ou Oeste. Na Berlim única que todos apregoam, embora admitam que ainda há diferenças palpáveis no que foram, durante 28 anos, as duas metades da capital alemã. No ano em que se comemora o 25.º aniversário da queda do muro de Berlim, pedimos a três jovens com essa idade que nos mostrassem a Berlim deles. Lukas foi o primeiro com quem nos encontrámos.
Ele diz-nos onde temos de ir e, pela única vez durante os dias que passamos em Berlim, apanhamos um táxi, porque já estamos muito atrasados. Lukas aguarda-nos junto a Markethalle 9, o primeiro ponto da nossa paragem. Situado no distrito de Kreuzberg, um dos mais conhecidos da “cena alternativa” berlinense, o antigo Mercado, nascido em 1891, renasceu como uma espécie de praça de alimentação gigante, com produtos diferentes, saudáveis e apetecíveis.
“Eu e os meus amigos passamos por aqui muitas vezes às quintas-feiras ao final da tarde, porque é quando acontecem as ‘quintas-feiras de comida de rua’. Nessa altura, o edifício é tomado por bancas de comida de rua de toda a Berlim. O ambiente é excelente”, diz Lukas.
Quando visitamos o mercado é sábado, mas o ambiente é igualmente animado. Há gente por todo o lado, a comer ou a beber nas mesas com bancos corridos ou, à falta de melhor, nas escadas do próprio edifício. Sumos naturais, sanduíches, pratos vegetarianos, doces e peixe fresco acomodam-se nos joelhos, entre a algazarra de muitas conversas.
Lukas conta que o edifício, que pertencia à cidade, passou uma fase de decadência, e chegou a correr o risco de se tornar num supermercado, não fosse a oposição dos moradores. “Há três anos não havia nada disto”, diz o berlinense. O novo projecto, proposto à câmara por um pequeno grupo de investidores, está a cativar os jovens da cidade, mas não é isento de polémica.
Kreuzberg, diz Lukas, outrora um bairro sobretudo povoado por imigrantes e com rendas controladas, para onde se deslocavam os mais pobres, começou a mudar há “cinco ou seis anos”. Tornou-se o bairro da moda, com lojas alternativas, pubs e restaurantes onde os mais jovens queriam estar. Com isto, contudo, veio a “gentrificação”, a que o Markethalle 9 também não é estranho.
Lukas aponta um pequeno supermercado, instalado junto a uma das entradas do edifício em pedra e ferro, e diz que provavelmente daqui a um ano ele já não estará ali. Apesar de ser um supermercado barato que ainda serve muitas pessoas do bairro, não se enquadra na nova imagem do mercado e deverá desaparecer. O outro, que existe nas proximidades, é caro e Lukas não sabe onde as famílias mais pobres da zona irão fazer as suas compras. Ali, diz Lukas, “ainda subsistem dois mundos”.