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    Alcalá la Real
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A Andaluzia nas entrelinhas, a paixão à flor da pele

Se a rua San Pedro, e as circundantes, são bem o espelho do poderio económico da cidade que foi condal e passou a ducal, a proverbial cereja está mesmo no topo desta cidade que trepa uma colina entre a serra Sul de Sevilha e a campina sevilhana. A colegiata de Santa María de la Asunción, o convento da Encarnación (um dos 19 que chegaram a estabelecer-se em Osuna), e, mais inesperada, a universidade, fundada no século XVI, formam esta espécie de acrópole de Osuna, a Urso romana, onde Júlio César comandou, em pessoa, a sua última batalha vitoriosa (Munda).

A universidade ainda hoje é um estabelecimento de ensino superior ligado à universidade de Sevilha, no convento resistem monjas e na colegiata Rosario é guardiã de chaves — ou melhor, uma chave, grande, pesada, de ferro — e de histórias. Está aqui desde os 19 anos (não nos diz a sua idade) e continua a vibrar quando nos mostra os tesouros do complexo da colegiata, desde a igreja renascentista ao panteão ducal, terminando no museu de arte sacra, onde mais se excede. Diante das pinturas de José de Ribera (ilustre representante da chamada Escola Espanhola), insiste em dizer-nos qual a melhor posição de observação; junto às bulas papais que ela própria traduziu do latim não podemos deixar de observar a caligrafia (“mais difícil do que o latim”); e deixa as luzes apagadas até que estamos frente a frente com uma cruz de prata dourada, diamantes e rubis, rendilhado intenso de pormenores da vida de Cristo, “para um efeito mais dramático”. Não saímos sem que nos toque Noite Feliz — num órgão do século XVI.

Muito antes do século XVI já os artesãos ursaonenses trabalhavam a pele do cordeiro e é essa herança árabe que, insuspeitamente, descobrimos no polígono industrial da cidade. Há um cheiro intenso nesta zona de Osuna e não é agradável. Mas entramos no armazém da Arte 2 e desaparece para dar lugar a trabalhos policromados e dourados, de grandes e pequenas dimensões, que decoram desde camas a paredes.

Puente Genil

Há uma ponte que une duas margens e que há dois séculos unia duas províncias, Sevilha e Córdova. Entretanto nasce Puente Genil, que continua a ter na sua ponte, a actual do século XVI, um motivo de orgulho. Não tanto, porém, como a “Mananta”, nome informal por que é conhecida a Semana Santa da cidade e que envolve 15% da população, ou seja, mais ou menos 4500 pessoas.

Contudo, antes de a Semana Santa ter chegado a Puente Genil, chegaram os romanos. Na verdade, nunca saíram — continuam a desfilar pelas ruas da cidade todos os sábados da Quaresma e permanecem como um puzzle que lentamente se reconstrói na Villa Romana de Fuente de Álamo. Não é um sítio arqueológico qualquer: é uma das villas rústicas romanas mais paradigmáticas da península e aqui encontram-se alguns dos mosaicos romanos mais bem preservados do mundo.

A Via Augusta passava aqui perto, o que pode ajudar a explicar a grandiosidade da propriedade perdida entre olivais. A entrada faz-se por um centro de interpretação inaugurado há menos de um ano e aqui percebemos os três momentos da vida deste local — porque se é conhecido como villa, a verdade é que antes foi um balneário romano e depois foi um lagar de azeite muçulmano.

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