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A Andaluzia nas entrelinhas, a paixão à flor da pele

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Entre o sagrado e o profano: eis a Semana Santa andaluza

Talvez seja por esta ser uma terra que durante séculos balançou entre duas religiões dominantes, mas a verdade é que a Semana Santa vive-se na Andaluzia como em poucos outros locais do mundo. As suas celebrações, com as características procissões, começaram na ressaca da reconquista cristã do Al-Andaluz, mas foi durante o período barroco que se definiu a estética e liturgia que ainda hoje predominam. A Paixão de Cristo é aqui mais do que uma celebração, é um modo de vida que vai muito além da religião — faz parte da tradição popular, de tal forma que até as saetas, cânticos litúrgicos, já foram incorporadas no flamenco.

O sagrado e o profano andam de mão dada na Semana Santa andaluza e é isso que nos conta Sánchez Tórres, primeiro vice-presidente da Agrupación de Cofradías, Hermandades y Corporaciones Bíblicas de Semana Santa de Puente Genil. Na cidade há 24 confrarias e 60 corporações bíblicas e estas são um compromisso que dura todo o ano — mais não seja pelo convívio, algo que se reflecte na sede do agrupamento. Estamos num antigo convento seiscentista e a  sala principal da sede (cuartel) é ocupada por uma mesa comprida que serve tanto para reuniões como para refeições, onde se misturam crentes e não crentes. Aliás, afirma Sánchez Tórres, cerca de 60% das pessoas envolvidas em todos os rituais não são crentes. Até porque há algo de carnavalesco nos desfiles, reconhece Sánchez Tórres, e isso percebe-se nas máscaras de Judas e Judite que decoram a sala — são os rostrillos, representando figuras bíblicas.

Em Alcalá la Real, contudo, a devoção popular é tão arreigada que o chefe da irmandade Ecce-Homo, a principal, compromete-se a manter a sua própria casa aberta todo o ano para quem queira ver o quadro Ecce-Homo “oficial”, há outros que ficam na sede, numa espécie de altar informal. É aqui que vemos também as vestes e os rostrillos, as máscaras que cobrem os participantes-actores que vão representando cenas da Paixão em diversas praças da cidade, uma teatralidade partilhada com Puente Genil.

Alcalá la Real e Puente Genil têm, talvez, as semanas santas mais distintivas dos Caminhos da Paixão, mas em todas as cidades este é o momento alto do ano. Em Lucena as procissões são marchas com andores, em Baena o contraste entre os judeus coliblancos e colinegros dão uma matriz curiosa e Carmona, Osuna e Priego de Córdoba trazem para a rua o seu património religioso barroco, em cortejos imponentes. E a Quaresma é o período de preparação, com uma série de concertos (de música sacra, de saetas) e vias sacras que são os sinais da religiosidade e, sobretudo, do apego da Andaluzia às suas tradições.

GUIA PRÁTICO

Como ir

A TAP liga Lisboa a Sevilha, com preços a começarem nos 200€.

Onde dormir

Carmona: Alcázar de la Reina, www.alcazar-reina.es

Osuna: Hotel Palácio Marqués de la Gomera, www.hotelpalaciodelmarques.es

Lucena: Hotel AN Santo Domingo, www.hotelansantodomingo.com

Priego de Córdoba: Casa Baños de la Villa, www.casabanosdelavilla.com

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