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A Andaluzia nas entrelinhas, a paixão à flor da pele

É, porém, a villa romana que se destaca nesta história, não só pela importância como, para os visitantes, pela dimensão das ruínas que permitem caminhar por quartos, salões, templos e termas que as escavações, que prosseguem, puseram já a descoberto. Como puseram a descoberto os mosaicos, que conferem a maior singularidade a Fuente de Álamo: entre figurativos (incluindo um raro nilótico, cujo original foi transferido para o Museu de Córdova) e geométricos alguns (os mais antigos), em excepcional estado de conservação e delicado desenho, deixam pistas para o estatuto social (elevado) do proprietário, que permanece um mistério.

Cabra

Somos egabrenses o cabreños, no cabrones”, brincam os habitante de Cabra. E apesar de estarmos em plena serra, a Subbética, na verdade dentro dos limites do parque natural, não é ao animal que a cidade deve o seu nome — diz-se que é herança do poeta local do século X conhecido por Al-Cabri. O topónimo remete-nos, portanto, para a herança árabe, enquanto o gentílico egabrense carrega o legado da Igrabrum romana, mas as raízes de Cabra mergulham mais fundo no tempo e exibem-se de forma invulgar nas suas fachadas.

Não importa se são islâmicas ou barrocas, nascem nas mesmas entranhas da Andaluzia jurássica. E como este território já foi aquático, o seu solo guardou os vestígios de animais e plantas, alguns extintos, que ao longo de muitos milhões de anos se transformaram em rochas e agora formam um geoparque reconhecido pela UNESCO. Essas rochas que depois foram extraídas e usadas na construção e, por isso, caminhamos entre, sobre, fósseis. Eles estão nas calçadas e nas fachadas, em fontes e em retábulos de igrejas, em colunas e varandas, plasmadas em rocha calcária, branca ou vermelha — que polida parece mármore e permite ver os fósseis como se tivessem sido desenhados. E estão em estado bruto, em três dimensões, nos Jardins da Vila, que sobem vários “andares”, ligando o centro da cidade à cidade medieval, a “vila”.

É por aqui que começamos a nossa visita, junto da estátua de El Cid, o Campeador, e aos pés do castelo, antigo alcázar, dentro da Cabra que foi muralhada. Dessas muralhas, resquícios do Al-Andaluz só restam três torres e um pouco do pano (“mantido para decoração”), que no interior guardam ruelas estreitas de empedrados desirmanados a abrir caminho entre casario branco e muros altos manchados de flores que caem nas fachadas — “É bonito, não é?”, pergunta de retórica de mulher que chega a casa.

É uma das ruas mais pitorescas, na verdade, e tentamos enquadrá-la na fotografia com a Igreja Mayor de la Asunción y Angeles, conhecida como “mesquita barroca”, por detrás. Era a antiga mesquita — o minarete caiu com o terramoto de Lisboa — e o interior mantém essa estrutura, ao mesmo tempo que se revela um escaparate para a Cabra jurássica, com o seu interior de calcário vermelho fingindo mármore a ostentar fósseis caprichosos, como se policromados, e decorações barrocas.

Ainda neste cerro da “vila”, o antigo castelo, tornado palácio condal e depois transformado em escolas, ostenta o mesmo equilíbrio entre o islâmico e o cristão, que se vê muito barroco em Cabra. É hora de saída e os pátios enchem-se de pais e avós que esperam por netos sob a tutela da torre de menagem, estilo mudéjar do século XIX, e da estátua do poeta Al-Cabri.

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