Fugas - Viagens

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A Cuba das jóias patrimoniais e das "majestosas montanhas verdes"

Saídos do clube náutico, é o Paseo del Prado que nos levará até à órbita da antiga Praça de Armas, actual Parque Martí – é a avenida mais longa de Cuba, marginada por árvores e atravessando Cienfuegos. Numa parte, ao unir Punta Gorda e Pueblo Nuevo, que apesar do nome é constituído pelo núcleo histórico da cidade, faz-se malécon, cara a cara com o mar, com cafés, esplanadas e até um clube de jazz. O Paseo del Prado foi e continua a ser a via estruturante da cidade. No seus primórdios, o Prado, como é mais conhecido, era uma espécie de passeio público, centro da vida social, “onde as senhoras passeavam para arranjar marido”, tudo sob “uma série de códigos restritos que formavam parte do encanto e que ainda hoje lhe empresta uma aura especial”, explica Yomary, a guia. 

Hoje continua a ser um ponto essencial da vida cultural e recreativa da cidade e continua a surpreender pela sua arquitectura com um simetrismo notável na sua disposição e na predominância de fachadas com colunas encimadas por arquitraves, a desenharem passeios-galerias contínuas. Um classicismo notável com o seu twist das Caraíbas: o (inevitável) arco-íris que o pinta normalmente com molduras brancas. É a partir do Paseo del Prado que melhor se percebe a originalidade de Cienfuegos, com o seu traçado em quadrícula, “como um tabuleiro de xadrez”, de ruas largas e rectas pontuadas por parques e praças. 

Nada melhor do que caminhar e o nosso percurso levou-nos a percorrer o boulevard como é conhecida a principal artéria comercial (e pedonal) de Cienfuegos, que une o Prado ao Parque Martí. Não vimos outra igual em Cuba, nem sequer em Havana. Esqueçam-se todos os estereótipos: aqui o comércio é intenso e as multidões passeiam calmamente, desfrutando da oferta (dos cachorros quentes da esquina, aos sorvetes ou flores) e sente-se uma certa prosperidade. Passamos edifícios majestosos, muitas vezes com loggias no primeiro andar, que albergam restaurantes (de cadeias e independentes, em grandes casonas), cafés, armazéns de produtos para casa, super e minimercados, lojas de fotografia, de roupa, de calçado e barbearias onde os clientes estão virados para a rua enquanto lhes cuidam das pilosidades. Entramos no que descobrimos ser o Palacio Blanco (apesar de estar pintado de verde água), recentemente recuperado para dar casa a artesão locais. Miguel, que “toma conta disto das sete às sete”, vê mais cubanos do que turistas a entrarem pela porta e deixa-nos espreitar o andar superior, ainda não ocupado. Da escadaria de madeira, em caracol duplo, diz-nos que “só há outra assim, em França ou Itália”, não se recorda. No rés-do-chão que desemboca num pátio central alinham-se bancas com marroquinaria variada, bijutaria, dominós, os familiares “ches”. Caminhando mais, vemos o centro da grande rua ocupada por mais artesãos e algumas instalações artísticas, há pequenas árvores em vasos e a Casa Arco, “donde lo cubano se hace arte”. 

E desembocamos na Parque José Martí, o quilómetro zero de Cienfuegos assinalado, neste centro cívico da cidade. “Desde este lugar el comandante em jefe Fidel Castro Ruiz en su marcha trinfual hacia La Habana dirigio la palabra al heroico pueblo cienfueguero em la madrugada de 7 de enero de 1959”, lê-se numa placa de mármore do edifício cinza e de cúpula vermelha do agora Museu Provincial e, ironicamente, antigo casino. É o primeiro edifício que vemos no parque que é mais uma praça, com a estátua marmórea de Martí ao centro em linha recta com o singelo arco do triunfo, rodeado por palmeiras e um coreto. A toda a volta alinham-se edifícios oitocentistas e do início do século XX, no estilo ecléctico tão caro aos cubanos do período da República. O Teatro Tomás Terry destaca-se pela monumentalidade e intricado da fachada, ao lado o Colégio San Lorenzo pelo clássico irrepreensível, o palácio Ferrer pelo azul céu da fachada – como centro cívico, encontram-se aqui a catedral, a câmara municipal. E um dos seus centros profanos, o Café Palatino, música ao vivo e esplanada debaixo de arcadas.
Há quem diga que Cienfuegos é a Paris que Paris seria se estivesse nas Caraíbas. Não vamos tão longe, mas certamente Cienfuegos é uma Cuba (umas Caraíbas, na verdade) absolutamente singular.
 

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