Por enquanto, paramos no centro da aldeia, uma praça ampla onde se reúnem todos os serviços que emulam uma mini-cidade e onde se destaca o edifício do cinema, que acompanha o desnível da sala, em escadaria invertida, para aproveitar o espaço de baixo para uma discoteca e bar. Rosario não vai à discoteca, mas gosta de saber que ela está lá. Ainda se lembra da vida na montanha, “dura”, e a mudança para Las Terrazas mudou-lhe o destino. Tem uma banca de artesanato aqui na praça, utiliza gorgónia para inventar pulseiras e brincos, com o nácar desenha formas com embute em metal que depois pode ir para um colar ou um broche, por exemplo, as cascas de coco e mexilhão alinham-se em colares.
Se o convívio com os habitantes é uma das premissas do turismo comunitário, aqui este pode fazer-se tanto em ateliers de artistas, nos vários paladares que com os restaurantes (incluído o El Romero, considerado o melhor vegetariano do país) formam a oferta gastronómica, e até no alojamento, onde há a opção de ficar em casas de famílias. É um projecto do Hotel Moka, edifício que leva ao extremo a camuflagem na natureza: construído em torno de uma “árvore do turista” (que se escapa por uma clarabóia), distribui-se quase como que sendo uma continuação imaginária da ramagem.
As árvores verdadeiras que compõem a sinfonia verde são também “estrada” para uma aventura em zip-line, uma das propostas mais radicais deste complexo turístico. Caminhadas, trekking, andar a cavalo, observação de pássaros, kayak no lago, mergulhos em cascatas são outras opções. Como o nosso tempo é curto, seguimos o caminho das ruínas de uma plantação de café do início do século XIX, para ver in situ a história da região.
E esta é a história de imigrantes franceses que depois da revolução no Haiti aportaram a Cuba para se dedicarem à plantação de café. Começaram pela costa ocidental da ilha, mas aqui chegaram a existir mais de cem plantações. Na área de Las Terrazas estão sinalizadas seis, a maioria ruínas dispersas, mas a Buena Vista poderia ser cenário de um filme de época, recuperada que foi em 1994. Fica num dos topos da Serra do Rosario e a vista permite que os nossos olhos cheguem até ao mar das Caraíbas – aliás, como estamos no ponto mais estreito da ilha, 31 quilómetros, alguns locais oferecem como horizonte a costas norte e sul. É difícil largar os miradouros naturais, mas há um avistamento de torococo – não o conseguimos descortinar entre o rendilhado de vegetação.
A casa principal foi totalmente recuperada e alberga por estes dias um restaurante e ao lado enfrentamos terraços quase como se estivéssemos perante uma pirâmide pré-colombiana. Mas a estrutura que se organiza em amplos terraços atravessados por uma enorme escadaria representa parte do ciclo do café, que depois de colhido era colocado nos degraus a secar, antes de ser separado da casca numa tahona (um moinho movido por escravos, cujos alojamentos se avistam em ruínas) que é o culminar da nossa ascensão.
Deixamos os vestígios franceses da região para avançar em direcção ao “arco-íris de Cuba”, como Soroa é conhecida. Continuamos na serra do Rosário e o Jardim Botânico/ Orquidário de Soroa, disposto numa encosta abrupta, é um paraíso para orquidiófilos mas dificilmente alguém sai incólume daqui. São mais de 750 espécies de orquídeas, cerca de 20 mil exemplares, num entorno natural luxuriante, que inclui outras seis mil espécies de plantas. Mas voltamos ao arco-íris: dizem que se desenha junto da cascata conhecida como Salto de Soroa, quando sol e nevoeiro se cruzam sobre a queda de água de 22 metros de altura. É um mergulho na floresta tropical, percorrendo os trilhos que descem até desembocarem nas piscinas desenhadas pelas cascatas. Sabe bem a fruta que o senhor Jose aqui vende, todos os dias, “sobretudo a cubanos” – saberia melhor um mergulho na água.