Fugas - Viagens

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A Cuba das jóias patrimoniais e das "majestosas montanhas verdes"

O arco-íris colonial

Deixamos Cienfuegos e a Cuba afrancesada para mergulhar no seu estereótipo de cidade arco-íris colonial. Para Trinidad nunca foram avaros os encómios e, na verdade, nunca lhe pesaram. Tem fama de ser a mais bela cidade cubana e vive leve e esfusiante, como se não fosse nada com ela, numa espécie de cha cha cha interminável de que aqueles dois homens que tocam e cantam num banco de jardim aos pés do Museu Nacional da Luta Contra os Bandidos (curiosamente, um antigo convento) são o melhor exemplo. Poderíamos pedir melhor final de tarde? Se calhar poderia complementar-se com uma visita ao Floridita Trinidad, tirar uma fotografia com (o busto de) Hemingway e beber daiquiris na rua, um empedrado que parece ser feito das mesmas pedras que saíram dos galeões espanhóis há séculos (pelo menos o desenho urbano não sofreu alterações significativas nos seus 500 anos de vida). 

Trinidad surge-nos no horizonte ao final do dia como um sonho: não sabemos se os contornos são reais ou uma visão. Numa península do sul de Cuba, a cidade foi um importante porto: primeiro para a conquista espanhola da América Latina, depois para o escoamento de produtos, sobretudo do açúcar, que fez a glória da região e agora é atracção turística por vezes fantasmagórica (já lá iremos). O mar das Caraíbas anda perto, portanto, mas não o chegamos a ver. A cidade de 50 mil habitantes pede tempo para ser desfrutada: não é grande, mas merece ser percorrida tão lentamente quanto possível, não recusando os convites às paragens em esplanadas, pequenas praças, tascas e bares. Faz parte do charme deste recanto com sabor crioulo que não permite tristezas, pois tem a alegria plasmadas nas paredes azuis, amarelas, vermelhas, ocres, verdes, tons carregados, sempre, e na música que é omnipresente mesmo que não descubramos de onde vem. Está na rua e é na rua que se está bem em Trinidad. 

A UNESCO não ficou indiferente à cidade fundada em 1514 e consagrou-a Património da Humanidade, distinguindo-a pela excepcional homogeneidade e continuidade da sua construção, que compõem um todo harmonioso. Porém, não se espere encontrar uma Disneylândia colonial. Esta é uma cidade vivida pelos trinitarios, os turistas são convidados a espreitar, a ver para além das fachadas, quase todas dos séculos XVIII e XIX, altura em que se começou a construir com pedra, depois do início do ciclo da cana de açúcar. É assim que vagueamos entre edifícios marcadamente coloniais, ao estilo andaluz e estremenho, portanto, sobressaindo as varandas de madeira pintadas em forte contraste com as paredes, e outros que já integram formas neoclássicas. Nem todos são palácios – longe disso – nem todos estão exemplarmente conservados e este é o segredo da autenticidade de Trinidad, atrevemo-nos. 

Na esquina da San Procopio com a Jesu Maria, carne de porco em sandes, cães a catar migalhas no chão, mulheres com rolos gigantes na cabeça, velhas a pedir um peso. Dejectos de cavalo na rua, joga-se xadrez nas soleiras das portas viradas para as ruas. As janelas das casas estão abertas e ouvem-se as vozes para lá dos gradeamentos (às vezes madeira a compor uma espécie de marquise) que são ornamentos (e uma das imagens de marca dos rés-do-chão de Trinidad) mas também pragmáticos: por vezes nem vidros ou portadas existem, deixando as casas abertas à mais leve brisa. É sábado à tarde e a cidade fervilha numa mescla de locais e turistas. Os cavalos a puxar carroças partilham as ruas estreitas e tortas do centro histórico, algumas inclinadas até perder de vista, com motorizadas ruidosas e alguns carros e carrinhas, estas sobretudo nas cargas e descargas – como se espera, não há qualquer disciplina neste trânsito, que até é proibido em parte da zona. 

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