Fugas - Viagens

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Macau, uma dança perpétua de contrastes

Descemos em direcção ao antigo edifício do Leal Senado, onde funcionava a “câmara municipal” durante a administração portuguesa. Cada travessa faz-se anunciar em azulejo azul e branco, em cima o nome chinês, em baixo o português, muitas vezes sem correspondência directa. Pequenas lojas vão-se sucedendo umas às outras, os placards coloridos de letras chinesas vendem bolachas e doces de amêndoa e sementes de sésamo, tiras de carne de porco seca e adocicada, animais marinhos desidratados. Ali reconhecemos bifanas e pastéis de nata (o creme bem menos doce e ligeiramente mais gelatinoso, provaremos mais tarde). Alguns letreiros incluem a tradução em português: aqui há “sopa de fitas” (noodles), ali “quinquilharia”, um “dentista” e “artigos eléctricos”, um “louceiro” acolá e muitas, muitas “ourivesarias” (além da venda de exuberantes jóias, têm outras veladas funções associadas ao mercado do jogo: loja de penhores e lavagem de dinheiro, substituindo o valor ganho por objectos de luxo mais fáceis de passar na fronteira).

Ao chegar ao Largo do Senado, pisamos as primeiras ruas a serem calcetadas em Macau, um mar branco de ondas azuis, criado no início dos anos 1990. “Os trabalhos começaram durante o Verão e vinham muitos chineses debruçar-se sobre os tapumes. Nunca tinham visto portugueses em tronco nu”, conta Alorino.

Dos casinos aos espectáculos

Enquanto atravessamos uma das pontes que liga a Península de Macau à Taipa, é preciso alguma dose de imaginação para acreditarmos que há meros 25 anos aquela parede de prédios não existia. “As ilhas da Taipa e Coloane eram vilas piscatórias. Nos anos 1980 só existiam três edifícios de referência: a Universidade de Macau [transferida no ano passado para 5km2 de terreno vedado em solo chinês, do outro lado do rio], um templo e um hotel pré-fabricado”, refere o responsável do turismo.

Hoje o horizonte esconde-se atrás de biombos de habitação, as águas que ladeavam o istmo de Cotai — separando Taipa e Coloane, outrora zona de cultivo de ostras — foram enterradas numa sucessão de hotéis-casino. Em 1981, a superfície total de Macau era de 15,5km2; em 2013 era o dobro. Para onde quer que olhemos, há edifícios a rasgar os céus de ostentação e luxo. Ali as paredes douradas do complexo hoteleiro do grupo Galaxy, deste lado o Venitian com as suas réplicas de casas e canais de Veneza, do outro os três hotéis da City of Dreams, os da Sands Cotai Central. Mais à frente, dois em construção, com abertura prevista para este ano e que prometem não ficar atrás: o Studio City — já se vislumbra o colossal oito na fachada onde será instalada uma roda gigante, “a maior da Ásia, com 130 metros de altura” — e o Parisien, que à semelhança do irmão de Las Vegas terá uma réplica da Torre Eiffel. A zona de aterro do Cotai faz os neóns kitsch dos hotéis na península parecerem brincadeiras de criança.

“Querem concentrar o mercado do jogo no Cotai e manter aqui o centro histórico e administrativo, preservar os monumentos e altura dos edifícios”, diz Tracy Tam, do departamento de marketing do Hotel Sofitel Macau at Ponte 16. A península, sobrelotada, não tem espaço para os novos empreendimentos hoteleiros que, além dos inevitáveis casinos e centros comerciais acoplados, expandem-se a salas de espectáculos, de cinema, espaços de diversão temáticos e multimédia e áreas desportivas. “O actual governo está a tentar diversificar a oferta, para não ser só casinos”, acrescenta Tracy. A resposta tem sido uma aposta reforçada no entretenimento.

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